quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Overcomplicated




Samuel Arbesman (2016). Overcomplicated: Technology at the Limits of Comprehension. Nova Iorque: Current.

É algo complicado perceber qual é o propósito deste livro. Promete ser uma reflexão sobre os sistemas complexos que suportam o nosso dia a dia, desde as infraestruturas tecnológicas aos códigos legais. Tem uma linha de pensamento muito clara: da colisão da expansão do conhecimento e desenvolvimento tecnológico surgiram sistemas de elevada complexidade, dos quais dependemos para manter a funcionar a economia, instituições, e cada vez mais, com a computação pessoal e a internet, as nossas vidas pessoais. Complexidade exponencial, que leva a que poucos sejam realmente capazes de compreender todos os elementos dos sistemas, e ao surgir de paralisações ou avarias inesperadas com causas difíceis de descobrir. Analisa o papel da progressiva especialização no domínio do conhecimento, reflectindo sobre a necessidade de abordagens transdisciplinares que preservem a flexibilidade de um pensamento generalista face ao isolamento trazido pela hiper-especialização.

São argumentos interessantes e pertinentes, mas o livro lê-se essencialmente como um longo resmungo acerca das condições da modernidade contemporânea. Os sistemas tecnológicos complexos que dão o tema ao livro são abordados de forma liminar, sem nada mais  profundo do que pequenas histórias de momentos em que bugs ou anomalias fizeram algo correr mal. Ao falar de alguns tipos de sistemas complexos, sente-se até que o grande problema apontado pelo autor está na diversidade de necessidades humanas, que obrigam à complexidade bizantina dos sistemas legais. As leis seriam de facto mais simples se houvessem menos direitos a respeitar. Apesar de abordar questões pertinentes, acaba por ser ler como um misto de análise angustiada e síndrome de choque do futuro.