quinta-feira, 26 de maio de 2016

Nazi Moonbase

 

Graeme Davis (2016). Nazi Moonbase. Oxford: Osprey.

É fácil imaginar os editores da Osprey, que se dedica a explorar o nicho de mercado dos nerds militaristas, a especular sobre que recepção teriam entre os geeks dos mundos imaginários. Os livros desta editora são dedicados às minúcias da história militar, com infinda obra sobre conflitos, unidades militares, estratégias ou dissecação quase pornográfica dos mecanismos de armamento. Tudo muito fiel ao rigor histórico, afastado de fantasias e especulações. Com excepção da sua colecção Dark Osprey, que se dedica precisamente a este campo.

Isto ajuda a explicar esta divertida bizarria de livro. Escrito naquele tom de autor tarefeiro a encher parágrafos para leitores que só estão interessados nas fotografias e ilustrações militaristas, detalha os tenebrosos segredos vindos do lado oculto da II Guerra, com a exploração das forças Vril pelos elementos mais radicais das SS para criar novas armas devastadoras. Elementos que, perante a derrota inevitável, se transferem primeiro para a Antártida, e depois para a Lua, levando consigo as armas mais secretas do II Reich, pondo em marcha um plano de sobrevivência e combate com o fim único do regresso, vitorioso, a uma Terra em cinzas. Contam com armas tenebrosas: potentes raios da morte, temíveis discos voadores, canhões capazes de disparar rochas lunares. A sua fortaleza lunar, último reduto do Reich, tem sido inexpugável perante as tentativas americanas de ataque. Nesta história, é-nos revelado que o verdadeiro objectivo das missões espaciais americanas, europeias e russas/soviéticas era o de defender o planeta da ameaça dos nazis entricheirados na lua.

O fantástico deste livro, para além do tema (nazis! tecnologias dieselpunk! conspirações! como não adorar?), é a forma como o autor consegue manter sempre um tom neutro, detalhando as histórias e tecnologias fictícias como se estivesse a fazer um resumo rigoroso de factos reais. Suspeito que haja por aí muitos leitores que não se apercebam da óbvia ironia do livro e acreditem mesmo que existam fortalezas germânicas na Lua. Chega ao ponto de misturar páginas web de teorias de conspiração com filmes e comics na bibliografia, mantendo sempre um tom de normalidade e rigor. Um bom humor perfeito.

Não é uma ideia nova, e a Internet está pejada de páginas que, fascinadas com desvios para o que não se apercebem ser um imaginário profundo, detalham as tecnologias ocultas do Reich, os projectos avançados de armas  em  boa parte reais, mas que não saíram do papel, especulam sobre conhecimentos ocultos, ligações a civilizações existentes no interior da Terra, entre outros elementos que estão na fronteira ténue entre o imaginário de FC e a esquizofrenia. Um manancial aproveitado pelos criadores de cultura de género, destacando-se o bom uso dado a esta iconografia por Mike Mignola em Hellboy ou no divertido filme finlandês Iron Sky. Esta edição da Osprey explora bem esse filão, e tornar-se-á uma referência neste reduzido mas divertido nicho.