quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Prophet: Brothers; Empire.


Brandon Graham, et al (2013). Prophet Vol. 2: Brothers. Berkeley: Image Comics.

Isto é um corpo estranho nos comics americanos. Prophet é space opera pura, mas não segue os previsíveis esquemas do género. Acompanhamos um rebelde, um de um enorme exército de clones espalhado pela galáxia, o único a libertar-se da pressão mental da inteligência artificial terrestre que o incita a todos os momentos a meter ordem no império. Um rebelde que se rodeia dos mais aguerridos alienígenas e viaja pela galáxia, tentando quebrar o jugo terreno sobre os povos que povoam os rochedos mais distantes. Mas não esperem de Prophet gargantuescas batalhas espaciais ou miticismos de heroísmo. A série está mais no campo da sensibilidade psicadélica de Moebius e Druillet do que nos estreitos caminhos da FC tradicional. Ao ler é impossível não recordar as aventuras de Lone Sloane, visual e conceptualmente tão próximas de Prophet que é difícil não lhe perceber a influência. Também a FC surreal de Moebius se espelha nas paisagens galácticas e exóticos seres que as povoam nesta série intrigante.


Brandon Graham, et al (2014). Prophet Vol. 3: Empire. Berkeley: Image Comics.

Um dos elementos que intriga em Prophet é a forma como altera as expectativas. Pelo título, e sabendo que se trata de uma space opera, esperamos um herói profético num aventuroso périplo pela galáxia. Mas não um único John Prophet. Espalhados pela galáxia, em hibernação ou em acção, existe uma míriade de prophets de todos dos tamanhos e feitios. Todos com a missão de acordar ao fim de milénios e, controlados por inteligências artificiais maternais, recuperar o império terrestre. Entretanto a galáxia já se esqueceu dos humanos (num dos planetas os humanos sobreviventes involuíram para antropoides inteligentes), as suas vastas estruturas são ruínas indistinguíveis na paisagem rochosa e a vida pulula em múltiplas espécies exóticas. Restam as naves, espalhadas pelo espaço, e os profetas, um dos quais luta para que a velha ordem não regresse. Neste terceiro volume não consegui libertar-me da sensação que a influência de Moebius foi tremenda. Não o Moebius do Incal ou dos Mundos de Edena, mas o da ficção científica absurdista da Garagem Hermética.