segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Comics


Afterlife With Archi #07: Depois de surpreender com o détournement dos pressupostos do simplismo clássico do all american boy, a série regressa entrando em território Walking Dead. Faz sentido. Todas as histórias com zombies têm o seu lado de périplo, com a obrigatória procissão por paisagens urbanas ou campestres decadentes temperadas com ataques de hordas de mortos vivos. Aguirre-Sacasa continua a temperar de vermelho profundo a quadricromia dos comics Archie, aproveitando a procissão em busca de sobrevivência para levar ao extremo as neuroses caricaturadas no bom humor normalizado do universo ficcional original destes personagens. Catanas, ao que parece, são uma excelente terapia para uma rapariga resolver de vez os seus problemas com um irmão impositivo. O estilismo de Francavilla continua a sublinhar que estamos a anos-luz do mundo adolescente luminoso de Archie e dos seus amigos.


Coffin Hill #14: Confesso que nunca esperei que esta série se revelasse tão consistente e boa. Pensei que fosse mais uma história de terror com bruxarias com o seu quê de bruxas de Salem temperadas com algum lovecraftianismo e assassínios rituais. Coffin Hill mexe, de facto, com estes elementos mas fá-lo com uma consistência admirável. Tudo gira à volta da localidade misteriosa onde reside uma família com segredos tenebrosos e uma jovem e problemática herdeira que lida com fantasmas do passado e regressa à terra após uma experiência falhada como polícia. Ou melhor, começa aí. Caitlin Kittredge supreende-nos com argumentos que não estariam nada mal como excelentes filmes de terror, temperando a visceralidade expectável com um sentido fortíssimo de ambiência arrepiante. Apesar de discreta, esta série inesperada é talvez a melhor a ser publicada no momento pela DC/Vertigo, mesmo levando em conta os interessantes Bodies e The Numbers, sem esquecer o incontornável Sandman Overture.


Little Nemo: Return to Slumberland #03: O fabuloso traço de Gabriel Rodriguez já é razão suficiente para se acompanhar este regresso do personagem clássico de Winsor McKay, e Eric Shanower destaca-se de forma admirável pelo cuidado que coloca no argumento, a trilhar o caminho certo entre a inovação e o respeito profundo por uma obra original tão marcante quando Little Nemo é na história da banda desenhada. Desconheço se McKay alguma vez se cruzou com M. C. Escher, Se o tivesse feito, suspeito que teria sido algo como esta profunda vénia que homenageia o marcante ilusionismo visual do artista holandês dentro do feérico onirismo infantil do ilustrador americano.


Wild's End #04: Irresistível. Como fã de H.G. Wells, não consigo deixar de estar curioso pelas diferentes abordagens que o marcante clássico War of the Worlds tem tido. Misturar este texto clássico sobre invasões alienígenas com o bucolismo anglófono e classicista dos animais antropomorfizados é um conceito brilhante que Dan Abnett vai levando com uma dose discreta de humor. E depois temos o traço de Culbard, sempre tão simples e elegante, e tão certeiro no tom neo-vitoriano que confere à série.