domingo, 18 de maio de 2014

Respirar


No Scratch Day 2014, na ESE  de Setúbal. É bom poder respirar. Fugir às pressões de um sistema educativo a ser cilindrado pela combinação de austeridade e neoliberalismo alastrante, observando e partilhando experiências num evento que preserva o espírito experimental e criativo para o qual já não parece haver espaço nas escolas. A manhã foi passada em colóquio, com apresentações sobre experiências de uso do Scratch, entrega de prémios de concurso de programação e uma justa homenagem à Teresa Martinho Marques. A sua persistência e entusiasmo têm sido fundamentais para a aceitação e expansão por cá de algo que mais do que uma linguagem de introdução à programação, é uma forma divertida de estimular funções metacognitivas e criatividade nas crianças recorrendo à tecnologia digital.


Das sessões da manhã, interessantes do ponto de vista académico, retiro isto. Ao nível mais elementar, não interessa que ferramenta se utiliza, se é 3D, Scratch, multimédia ou outras. Interessa é manter em vista o objectivo de estimular nas crianças o criar/produzir, mostrando-lhes que se podem ir mais além do que o consumo passivo de conteúdos. E isto, parece-me, é tão verdade nas tic como nas artes ou outras áreas. Intriga-me esta cada vez maior proximidade conceptual entre os mundos tecnológicos e artísticos no partilhar, criar e experimentar para descobrir.


A parte da tarde foi dedicada à experimentação. Muito Scratch (estava a decorrer um concurso de programação), robótica com Lego Mindstorms, open hardware com Arduino, e combinação de Kinects com Scratch. Nestas alturas sou um espectador intrigado e interessado. Entre as responsabilidades habituais e o aprofundar da ficção científica e 3D na educação já tenho muito para me inquietar. As possibilidades artísticas da robótica e arduino intrigam-me mas ainda não é hora de me debruçar sobre isso com profundidade. Já o Scratch fascina-me pela forma como torna táctil os processos mentais de resolução de problemas dos alunos. É algo que se sabe e se lê sobre, mas só se sente realmente quando se leva a ferramenta para a sala de aula.


Isto foi o verdadeiramente o mais interessante neste dia. Olhar à volta para o átrio da ESE de Setúbal e ver a quantidade de crianças e adolescentes que andava por lá a programar e a mexer com robots. A aprender e criar num ciclo que se auto-reforça. Longe de imposições estatísticas, apenas pelo gosto de experimentar, ter ideias e levá-las mais além. Se me perguntarem o que é que é desejável no ensino e aprendizagem, como o mais fundamental, sem entrar em considerações sobre áreas específicas, respondo que é isto. Aprender a gostar do conhecimento.