segunda-feira, 17 de março de 2014

Comics


Batman #29: Já percebemos, Scott Snyder. Não era preciso ser tão óbvio, via-se desde a primeira página deste reboot Year Zero que a vénia, dívida intelectual e homenagem às narrativas estruturantes de Frank Miller é enorme. Snyder recupera um Batman incipiente em toque policial conspiratório, actualizado para o século XXI, com elementos da cinematografia que têm o seu quê de forçados, e sempre que pode cita Year One no argumento e The Dark Knight Returns na iconografia. Como neste painel, em que recuamos vinte anos até ao estilismo de Frank Miller. Bem, uma das características dos comics é a forma como empacotam o mesmo de sempre em embalagens que pouco variam entre si, exceptuando os detalhes que traduzem as épocas. A saga Year Zero não é excepção, embora as capacidades argumentistas de Snyder a tornem uma boa leitura.


Beasts of Burden: Hunters and Gatherers: É impossível não ficar encantado por este comic. A premissa é clássica. Temos um grupo de defensores do sobrenatural que protegem uma cidade que ignora os terríveis perigos que se ocultam nas trevas. O que distingue esta série é que aqui os defensores são um grupo de adoráveis cães e um gato, que defendem a pacata cidade de Burden Hill das mais terríveis ameaças das forças tenebrosas do além. A dissonância cognitiva entre as cores vivas e ingénuas dos animais falantes e as histórias de combate contra o mal dá-lhe um encanto muito próprio. E cuidado. Aquela matilha de cães simpáticos que nos contempla com olhar plácido pode ter objectivos obscuros. É bom que não sejamos vistos com uma criatura das trevas disposta a tudo para arrasar o dia luminoso.


City Mind in the Machine #02: A primeira edição desta série não aqueceu nem arrefeceu. Tipo que cega depois de um acidente. Visto. Corporação malvada que o usa para experiências cibernéticas. Visto. Cientista amigo que se preocupa com as repercussões das vontades do ambicioso gestor da empresa. Visto. Cego que recupera a vida com olhos robóticos. Visto. Olhos esses que são um interface entre o seu cérebro, uma inteligência artificial e as milhares de câmaras de videovigilância que estão espalhadas pela cidade. Olá, esta intriga. Crítica  pouco velada à sociedade panopticon onde a paranóia da segurança se sobrepõe aos direitos fundamentais. Visto. Mas na segunda edição temos vislumbres do que acontece à mente do homem-cobaia cujo olhar abarca as câmaras de videovigilância da cidade. Intui-se uma mescla de homem-máquina, com o cérebro a adaptar-se a este novo sentido de formas inesperadas. A história continua a mesma, mais uma variante das narrativas que colidem segurança com direitos, mas o toque cyberpunk aqui assumido é delicioso.


Captain Marvel #01: Confesso. O que despertou a curiosidade foi a capa. O que encontrei foi uma surpresa. Sabemos que os comics de super-heróis são repetitivos até à exaustão e exímios em reempacotar o mesmo de sempre em novas roupagens. Estas por vezes surpreendem. A nova série da Capitã Marvel promete trazer um toque space opera de aventura pelos recantos mais exóticos da galáxia. É uma curiosa mudança de tom. O género não é estranho à editora, e o último tie-in foi uma space opera militarista de escala épica. Esta nova Captain Marvel talvez seja uma reacção ao classicismo que Jim Starlin veio trazer a Stormwatch na DC, também assente em conceitos clássicos de space opera.


Magnus Robot Fighter #01: A Dynamite não perde muito tempo com personagens originais. Para quê arriscar, se se pode espremer a propriedade intelectual pré-existente? Mas vai tendo algum cuidado nas suas abordagens, que no seu melhor se traduzem em interessantes revisões de personagens clássicos. Magnus é a mais recente adição ao panorama da editora e Fred Van Lente, o responsável pelas bizarrias de Archer & Armstrong, consegue manter um bom equilíbrio entre as bases clássicas do personagem e uma arrojada linha narrativa de pura ficção científica futurista com toques cyberpunk. As bases continuam as mesmas, mas a revisão ao mundo ficcional arrancou-o do retrofuturismo datado dos anos 50 e meteu-o em cheio nas mais viscerais visões de hipermodernidade tecnológica extrapolada para uma visão pós-singularitária. E nota-se que o argumentista está a fazê-lo com um gozo invejável.