sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Comics


Baltimore The Infernal Train #02: Sendo um comic de Mike Mignola publicado pela Dark Horse as comparações com Hellboy e o mais desinteressantes B.P.R.D. são inevitáveis. Com o icónico demónio em pausa e o seu universo ficcional mantido vivo pelos fracos esforços dos argumentistas de B.P.R.D. tornou-se claro que Mignola deseja recapturar a imaginação do público com um novo personagem, mantendo a frescura de ideias que Hellboy, graças à sua popularidade, já não consegue manter. As aventuras de Lord Baltimore, caçador implacável de vampiros numa Europa devastada pelo pós-guerra da I Guerra onde uma praga de vampirismo desencadeada por Haigus, um misterioso vampiro-mor, ameaça arrastar o século XX para uma versão steampunk da idade média, têm sido desenvolvidas metodicamente como um universo ficcional vasto, com personagens multifacetadas e um herói torturado mas corajoso com potencial icónico. Tal como fez com Hellboy, Baltimore está a ser desenvolvido por Mignola como um conjunto de pequenas séries de aventura e ocultismo que eventualmente formarão um corpus literário mais abrangente. Só resta saber quando é que Guillermo Del Toro fará um filme com Baltimore, de preferência com estéticas tão marcadas e influentes como as da série de filmes de Hellboy.


Extinction Parade #03: Pensava que Max Brooks iria libertar (ainda mais) o sangue e as vísceras nesta curiosa amálgama dos géneros de horror de vampiros e zombies. Mas não. Não que não haja uma boa dose de tinta vermelha nas páginas (afinal, estamos a falar da Avatar Press) mas Brooks olha para um outro aspecto do vampirismo, para os leais servidores dos sugadores de sangue. A sua visão é uma fortemente carregada visão sobre poder e oligarquias. Se aplicássemos as ofertas irrecusáveis dos vampiros aos comuns humanos que os servem a contextos como finanças ou aristocracia, só mudavam os sorrisos. Banqueiros ou oligarcas quando sorriem não mostram os caninos afiados, talvez o pormenor que realmente os distingue dos sanguessugas ficcionais.


King's Watch #02: A Dynamite Entertainment não está interessada em inovar na edição de comics. A sua especialidade é pegar em personagens clássicos, adquirindo direitos temporários sobre propriedade intelectual e dando novas roupagens ou actualizações a ícones dos comics. A coisa não funcionou muito bem com Green Hornet, que de um bom início resvalou para argumentos medíocres e talvez da pior qualidade ilustrativa que vi num comic de primeira linha. Já The Shadow vai mantendo o interesse com uma abordagem que mistura o policial pulp com algum historicismo. Buck Rogers  e Flash Gordon Zeitgeist foram dois pontos altos da abordagem da editora, visões actuais assentes em excelente argumentos e estilos visuais arrebatadores. Por outro lado, as séries que andam à volta de John Carter of Mars podem ser classificadas como pornografia para pré-adolescentes. Qualquer título que meta Dejah Thoris é essencialmente uma colecção de pinups em roupagens miniaturizadas com argumentos que não foram escritos para ser lidos. O foco agora está na reunião de personagens e universos ficcionais em comics de grupo que permitam maximizar a propriedade intelectual. Um primeiro esforço que reuniu The Shadow, The Spider, Zorro, Green Hornet e uma galáxia de outros heróis pulp semi-obscuros não se saldou pelo interesse, apesar do trabalho de Chris Roberson. Desta vez o foco está em Phantom, Mandrake e Flash Gordon, e a série parece reunir os elementos empolgantes de aventura pura que caracterizam estes personagens enquanto dá uma roupagem actual a estes personagens clássicos. Como se nota na vinheta que escolhi para ilustrar a série, onde Lothar, companheiro de Mandrake (aqui, felizmente, não o adonis africano sempre de tanguinha em pele de leopardo do comics original) coloca o mago em contacto com um rude Phantom utilizando meios decididamente quentes. A seguir, parece que a Dymanite se prepara para pegar em Doc Savage. Pessoalmente estou muito curioso com o que farão com a personagem.


The Steamengines Of Oz #03: Caças com asas de morcego contra dirigíveis aracnóides e robots a vapor com asas de mosca? Steamengines of Oz pode ser infantil, uma história para crianças passada dentro de um mundo ficcional da literatura infantil onde as vagarias da propriedade intelectual já permitem apropriações inesperadas. Numa coisa a série foi brilhante: a ilustração ultrapassou os limites do steampunk com um gosto e elegância inegáveis. Só por isso vale a pena a leitura.


Vincent Price Museum of the Macabre #02:  Da Bluewater raramente saem coisas interessantes. Os comics desta editora são notórios pelos maus argumentos e ilustrações sofríveis. Mas como resistir ao apelo nostálgico de Vincent Price em títulos cujo horror está não no conteúdo mas na forma como foram escritos e ilustrados? Desta vez a surpresa foi boa, com um conto de horror em modo tradicional  ilustrado num estilo expressivo e decadente com o seu quê de repelente. Almas penadas, coveiros desenrascados e exorcistas implacáveis colidem num cemitério de uma obscura igreja paroquial.


The Mysterious Stranges #05: Chris Roberson à solta num registo perfeitamente retro, que vai ao ponto de imitar com nostalgia os genéricos das velhas séries televisivas de aventura. A premissa é estafada - um grupo de agentes ultra-secretos, membros de um grupo oculto que se dedica a combater terrores insuspeitos e que se cruza com monstros lovecraftianos, ditadores de repúblicas das bananas que devem o poder a misteriosos artefactos, ou alienígenas que misturam os mitos urbanos sobre greys e haunebus (greys sendo os extraterrestres minorcas acinzentados de olhos esbugalhados e haunebus ovnis nazis, para os menos conhecedores de curiosas irrelevâncias pop). Roberson mistura nos seus argumentos nostalgia retro e descontracção narrativa. O resultado é divertido, leve, nostálgico e bem ilustrado. É talvez a versão comics do escapismo retro de Charlie's Angels, com um toque de terror.