segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Comics: Fagin The Jew; Citizen Rex.
Will Eisner (2003). Fagin The Jew. Nova Iorque: Doubleday.
Desgostoso com a abundância de estereótipos raciais nos comics (aos quais a sua própria obra não é estranha) Will Eisner revisita a mais clássica das obras de Dickens sob o ponto de vista de um dos seus mais tenebrosos personagens. É um curioso virar do jogo. Eisner aplica a técnica usada por Dickens para sublinhas as extremas injustiças sociais da Inglaterra do século XIX com o propósito de demonstrar o o anti-semitismo como racismo absurdo. No caminho resume muito bem o clássico Oliver Twist, agora narrado pela voz de Fagin que nos mostra como se tornou criminoso graças a combinações similares das injustiças que se abateram sob o jovem Oliver, agravados pelo racismo prevalente sobre a condição judaica.
Para além destas mensagens que ainda hoje não estão de todo desactualizadas, este livro dá-nos o esplendor do traço único deste ilustrador na sua fase madura de grande mestre dos comics. Eisner homenageia as suas raízes enquanto aponta o dedo contra esterótipos na cultura popular aos quais ele próprio, por força da profissão, não era avesso. Note-se que o grande mestre que nos legou esta e outras tão grandes e belas obras de banda desenhada também imortalizou iconografia racial no caricatural companheiro negro de Spirit. Eram outros tempos, e outras as pressões editoriais para conformar ao gosto dos públicos.
Mario Hernández, Gilbert Hernández (2011). Citizen Rex. Milwaukie: Dark Horse.
Sempre tive um problema com os irmãos Hernández. Se lhes admiro a escolha de temáticas e curiosa mistura de soap opera com ficção científica, o traço cru de estilo quase adolescente repele-me. Este Citizen Rex não é excepção. Compreendo a profunda homenagem à FC clássica que encantou infâncias nesta história de robots inteligentes, crimes tecnológicos e urbanismos futuros. Mas a desconexão entre um estilo narrativo arrítmico e entrecortado com a extrema simplicidade do grafismo a preto e branco torna este um livro confuso e dissonante. A iconografia bate certo com a narrativa mas o estilismo não. Sempre tive a sensação que o estilo gráfico dos Hernández congelou ali na altura dos seus dezassete anos, que foi a altura em que eu os descobri e me encantaram, inicialmente. No caso deste livro é uma pena. A história sobre uma futura conspiração onde um robot autónomo é reactivado por um grupo de criminosos e industriais de intenções nefandas é uma belíssima brincadeira com os lugares comuns da FC. Mas aqueles desenhos, aqueles desenhos...