terça-feira, 6 de novembro de 2012
Eternus 9: A Cidade dos Espelhos
Victor Mesquita (2010). Eternus 9: A Cidade dos Espelhos. Lisboa: Gradiva.
Space Opera e psicadelismo cósmico mesclam-se neste segundo volume da série criada e ilustrada por Victor Mesquita no seu estilo reminiscente da ilustração psicadélica dos anos 70, Moebius e Druillet. Um autor de BD numa distópica Lisboa futura debate-se com a conclusão de um album enquanto se divide entre reminiscências de uma infância onde aprende o gosto pelo fantástico, as pressões de uma sociedade vigiada por forças opressivas, e o canalizar da persona de Eternus 9, navegante do espaço sideral. Jornada de introespecção interior, este livro mistura o poder da fantasia com um humanismo transcendental espelhado no papel do homem face à vastidão do cosmos e as profundezas dos sentidos da vida. São temáticas algo singulares na época contemporânea, reflexo de uma outra era onde os temas cósmicos imperavam num estilo de banda desenhada que misturava surrealismo e futurismo.
Victor Mesquita é o autor português que mantém esse estilismo reminiscente do surrealismo cósmico de Moebius e do barroco futurista de Druillet. Mesquita tem um traço muito próprio e detalhado, que me faz sempre pensar nos belos excessos da ilustração psicadélica. Combina o seu traço com experimentalismo digital, que se traduz nalgumas vinhetas soberbas mas também em falhas visuais quando o desenho e do digital não combinam ou quando o excesso de desfocagem pixeliza a imagem.
Um pouco menos coerente do que o genial e marcante Eternus 9: Um Filho do Cosmos, este A Cidade dos Espelhos dá-nos vistas assombrosas de um futurismo ao mesmo tempo naturalista, surreal e urbano. Vale por ser marcante, por demonstrar a vitalidade da Banda Desenhada portuguesa num registo muito diferente ao habitual, e do esforço do percurso individual de um autor que oscila entre mestre e maldito do panorama português.