segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Colapso sistémico

Não é habitual ver Ray Kurzweil citado fora de contextos tecno-utopistas ou de ficção científica, e raríssimo no caso da educação. Steve Wheeler falou-nos deste tecnologista norte-americano ao extrapolou o conceito de singularidade tecnológica para um panorama educacional que se consciencializou da importância da integração de tecnologias na edicação, que enquanto se deslumbra com as potencialidades das tecnologias teme os seus efeitos, e mal domina uma aplicação  logo descobre que existe algo melhor ou mais interessante. Singularidade é um conceito de colapso sistémico sob pressão de tecnologias de evolução progressivamente acelerada com impactos transformativos profundos.

Wheeler fez-nos olhar para a evolução dos serviços web que utilizamos para perceber quão rápida a sua evolução, mudança, intensidade da explosão de comunicação e criatividade expressa no volume gargantuesco de informação criada e partilhada online. É-nos claro que a internet, particularmente na partilha ubíqua de informação, veio para ficar. Novas gerações num mundo potenciado pela tecnologia têm de adquirir conhecimento profundo, aprendizagens que lhes permitam gerir, fazer sentido, agir e ser criativos num ecossistema de constante mudança. É um novo paradigma que vai mais longe do que a aquisição de conhecimentos como finalidade da educação.

O acesso à informação, os dados por si só de pouco valem. Assumem importância quando são trabalhados, reflectidos, quando se vê o padrão a emergir do ruído de informação. O desafio presente é reorientar as práticas pedagógicas para reflectir a diversidade e os desafios contemporâneos trazidos à escala planetária pela tecnologia. Poderá passar pelo reconhecimento do potencial da acção de multidões crowdsourcing, crowdfunding, jogo de aprendizagem, espaços virtuais tridimensionais, realidade aumentada, enfim, de uma utilização activa e criativa da crescente gama de tecnologias ao dispor dos utilizadores. Este primeiro passo terá de se reflectir na qualidade da informação, dando importância ao discernimento informado e à capacidade de julgamento e reflexão sobre a veracidade e pertinência da informação disponível no cada vez mais vasto oceano de dados em que mergulhámos. Implica abordagens que estimulem a metacognição, novas competências de gestão de perfis/personas online, de segurança dos dados pessoais. Ficamos desconcertados com a vastidão do manancial de possibilidades trazidas pela explosão na acessibilidade e conectividade mediada pela tecnologia. No entanto, a capacidade de uso inteligente é algo a despertar nos alunos, membros de uma geração digital fortemente estimulada a consumir conteúdos mas que tem de ser estimulada a produzir e a utilizar livremente para os fins que entender. Cada vez mais se sente que a importância da utilização de tecnologias digitais na educação está do estímulo metacognitivo, no aprender a aprender e na flexibilização do pensamento criativo face à barragem constante de novos desafios do que no domínio de ferramentas específicas.