segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Vulgaridade cínica

Há qualquer coisa que me incomoda fortemente com a imagem do primeiro-ministro no teatro recentemente divulgada. Não é só pelo contexto, por ver o responsável político máximo a rir, feliz, após anunciar o agravamento das condições de vida de todos os portugueses e um autêntico assalto aos nossos já parcos rendimentos encapotado sob a novilíngua da austeridade e salvação do país. É a sua iconografia, a carnalidade balofa de quem engorda enquanto todo um país se reduz à esqualidez. E a arrepiante similaridade com o estilo do pintor George Grosz, caricaturista excepcional das injustiças sociais que retratou a vulgaridade cínica e a rapacidade lúbrica daqueles que prosperam com a miséria humana.




Vêem onde quero chegar? Observem a expressão deformada e carnuda dos homens obesos de Grosz. Com essa imagem mental olhem para a fotografia do chefe do executivo que vai arrasando o país para o salvar.

Dá a volta ao estômago, não dá? Por todas as razões que já conhecemos e por algumas que ainda estão encapotadas entre alíneas imperceptíveis de decretos-lei danosos para aqueles que tiveram a má sorte de terem nascido portugueses.