quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Fragmentos de realidade

Talvez seja uma visão viciada por pertencer a um grupo (mas não a uma geração) que por razões que vão do simples entretenimento ao desempenho profissional passam mais tempo frente ao ecrã do computador do que é geralmente aconselhável. E boa parte desse tempo ligado à web. É como ter uma janela para o fluxo de pensamento do cérebro global. Notícias, ideias, memes, provocações e inquietudes chegam em fragmentos no refluxo das marés binárias. As formas tradicionais de aquisição de informação, os media clássicos (imprensa, rádio e televisão) perderam a predominância e tornaram-se mais um elemento de um imenso ruído de fundo do qual emergem ideias gritantes, que se tornam apelativas pela sua importância face aos nossos interesses pessoais.

O que me deixa a pensar no que Venkatesh Rao escreve no ensaio Welcome to the Future Nauseous:
The result will be a world population with a large majority of people on the edge of madness, somehow functioning in a haze where past, present and future form a chaotic soup (have you checked out your Facebook feed lately) of drunken perspective shifts. This is already starting to happen. Instead of a newspaper feeding us daily doses of a shared Field, we get a nauseating mix of news from forgotten classmates, slogan-placards about issues trivial and grave, revisionist histories coming at us via a million political voices, the future as a patchwork quilt of incoherent glimpses, all mixed in with pictures of cats doing improbable things.

É algo que penso sempre que ideias se espalham como fogo em mato seco pelas redes sociais. Algumas são boas, outras interessantes, outras erradas e outras meros boatos mal fundamentados. Mas na janela da rede social espalham-se pelas consciências dos utilizadores. Na intimidade da nossa relação com o ecrã, talvez estas ideias fragmentárias sejam as mais importantes para a construção da realidade interior, da forma como percebemos e agimos no mundo em redor.

O conceito é ao mesmo tempo excitante e assustador: a forma como pensamos construindo-se a partir de fragmentos filtrados nos fluxos da rede digital. É excitante, pela vasta gama de fontes de informação a que temos acesso. O que assusta é o problema da sua fiabilidade. Imagine-se uma mente cuja percepção da realidade é elaborada a partir de fragmentos erróneos de informação.