quinta-feira, 24 de maio de 2012

Piranese

Milo Manara (2004). Piranese: Prison Planet. Rockville: Heavy Metal.
Apesar de admirar a forma como Manara desenha o corpo feminino (tanto que consegue dizer com tão pouca linha), confesso que não sou grande fã da obra deste seminal autor de banda desenhada embora abra excepção para a surreal colaboração com Fellini que é o delicioso Viagem a Tulum. Este Piranese é também um objecto estranho. Tem um toque da sensualidade habitual no autor, conjugado com uma certa revulsão na representação da forma masculina. É uma obra de ficção científica, um pouco desconexa, mas socorre-se da tradição renascentista. Manara a desenhar naves espaciais e paisagens alienígenas... bem, já vi pior. Mas Manara a desenhar robots e altos dignatários é uma lição de história de arte, a pegar nos clássicos do renascimento e a inspirar-se claramente na prematura robótica de Leonardo da Vinci para os seus andróides. A narrativa não prima pela lógica, cheia de volteios inexplicáveis. Mas goste-se ou não da obra de Milo Manara, uma coisa é inegável: o seu traço é magistral, com uma economia de linha que se traduz numa grande riqueza gráfica. Piranese não é das suas melhores obras, mas é um curioso desvio de um autor europeu para os campos da ficção científica.