quinta-feira, 19 de abril de 2012

Foundation and Empire


Isaac Asimov (2004). Foundation and Empire. Nova Iorque: Bantam Books.

Se o primeiro livro desta brilhante série era uma colecção de contos cerebrais onde manobras e intrigas detinham o primeiro plano, este fica-se por dois longos capítulos na história épica das cinzas de um futuro império galáctico.

São duas longas narrativas que funcionam como duas faces da mesma moeda. Numa, assistimos ao zénite da Fundação. Com o poder assente em redes de comércio e alta tecnologia, vê-se sobre ataque de um império que nos últimos estertores ainda tem força para alguns rasgos da antiga glória. Um capaz general imperial decide anexar as regiões estelares controladas pela Fundação, e apesar da disparidade tecnológica entre as forças técnicamente avançadas e as decrépitas relíquias imperiais consegue aproximar-se do seu objectivo graças a uma combinação de táctica e superioridade numérica. A ameaça é real, e o curioso é que todas as iniciativas tomadas falham redondamente mas a ameaça acaba por ser debelada. Asimov dá-nos vislumbres de batalhas espaciais, mas como é habitual nesta série a acção é de bastidores. Os agentes da Fundação tudo tentam para travar o general imperial mas as suas estratégias falham. O que trava a invasão é o mais antigo dos sentimentos: a perspicácia de um imperador que percebe que o general competente e amado pelas suas tropas de hoje poderá ser o imperador de amanhã.

Este encontro com o império parece sublinhar a potência das linhas históricas traçadas por Seldon que conduzem a história da Fundação. Acções individuais, por nobres ou corajosas que sejam, parecem ineficazes dentro do mais vasto contexto das leis da psico-história. Esta primeira parte termina com um aparente triunfo das tendências e planos traçados sobre a capacidade individual.

Asimov depressa vira o jogo e nos dá o reverso. A segunda parte de Foundation and Empire mostra-nos o preciso oposto - o poder de um indivíduo de derrubar o mais sólido dos planos como se de um frágil castelo de cartas se tratasse. The Mule é, em minha opinião, o mais genial dos contos (ou capítulos) da série que até agora li. Neste, a Fundação atinge o seu nadir e termina conquistada sob o jugo de um misterioso personagem, um mutante capaz de recondicionar as emoções humanas apelidado de "mula". O plano de Seldon quebra-se. As mais requintas previsões matemáticas não resistem à colisão com o inesperado. A lição é clara: o mais sólido dos planos pode ser abalado por variáveis desconhecidas. Asimov sublinha esta lição ao retratar uma Fundação modificada, em que o poder passou a ser transmitido de geração em geração por uma nova aristocracia e a rigidez dogmática conjugada com uma fé cega do plano de Seldon anquilosaram o farol progressista. No choque entre o monolitismo e o imprevisível o inesperado acontece.

O brilhantismo de The Mule está na sua própria construção narrativa. Novamente, enquanto vislumbramos batalhas épicas a acção envolve um conjunto reduzido de personagens que deambula por vários planetas, em busca de formas de travar o vilão e contactar a outra Fundação que Seldon teria estabelecido no outro lado da galáxia. Um leitor atento depressa repara num padrão que emerge. A queda dos planetas frente às forças invasoras parece acompanhar a trajectória dos personagens. Instala-se a desconfiança de que uma destas, a mais humilde e menos ameaçadora, poderá ser o mais perigoso dos vilões, mas só nos parágrafos finais é que Asimov brilhantemente nos tira o tapete e mostra que assim é. Este volte-faces são uma das mais clássicas técnicas do conto de ficção científica e aqui Asimov utiliza-a com pura genialidade.

Se o primeiro volume de Foundation surge como um white man's burden de manter a chama da cultura e inteligência no dealbar da barbárie, o segundo mostra-nos que a fé cega conduz à decadência, mesmo que a crença esteja nos triunfos progressistas. É uma visão inocente, típica de uma época onde existia o atrevimento de sonhar com utopias.