Diga-se que o dia fresquinho pontuado por chuvadas torrenciais estava convidativo a um passeio pela feira ao ar livre. Especialmente para quem é avesso ao chapéu de chuva como eu.
Talvez eu tenha uma ideia demasiado romântica de silêncio monástico e reverência perante os livros e literaturas. Afinal o livro também é negócio, e nada de mal há nisso. Mas este exagero, esta acentuação no marketing desbragado aliada à falta de atenção aos públicos é um tiro no pé da promoção de leitura. Feira ao ar livre agendada para dias de mau tempo? Bombos a rufar e assédio de ofertas promocionais de comida de gatos? Corridas com livros e outras actividades do género? Desculpem lá, mas o que é que isto tem a ver com a feira do livro? O que aconteceu àquele espaço tranquilo onde uma vez por ano os bibliófilos e o público em geral iam ver novidades e rebuscar atenciosamente preciosidades e obras esquecidas? A febre da monetização vai altíssima.
Pelo menos ia em boa companhia. Mas caveat lector: visitar a feira acompanhado de um escritor de FC é duro. Tantas boas indicações de leitura e uma carteira tão vazia...
Será boa altura para confessar que a minha mais antiga e querida memória da feira do livro é a de ter lá ido quando criança, numa visita com a minha turma da escola primária? Trouxe de lá um livro, cujo conteúdo e título já esqueci, mas cujos desenhos me ficaram gravados na memória. Tal como os cinquenta escudos de preço.