"Borges é como um choque eléctrico ao leitor", foram as palavras de Pedro Marques que resumem a sessão do Clube de Leitura Bertrand dinamizado por Rogério Ribeiro. Aplica-se bem. Borges é incontornável e quem o lê invariavelmente encanta-se. Cá por mim, clichés batidos, bem sei, mas a minha vida mental não seria a mesma coisa se nunca tivesse lido e mergulhado no realismo mágico especulativo de Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, A Biblioteca de Babel ou O Aleph, citando os três contos do autor que mais profundamente me marcaram.
Sim, tenho um fetiche por tríades, trios e argumentos lógicos com três observações. Influências de santíssimas trindades, talvez, ou o fluxo do passado-presente-futuro.
A conversa andou mais à volta das agruras e aventuras do mundo da edição. É um aspecto esquecido e pouco conhecido dos leitures, habituados a olhar para o livro como algo saído da mente de um criador. Pedro Marques leva-nos a olhar para os bastidores, levantando a cortina e dando aos comuns leitores vislumbres da por vezes rocambolesca realidade da edição de livros.
Infiltrei-me no refrescante espaço outlet da veneranda Bertrand e fui recompensado com intrigantes partilhas de experiências que deixaram vontade de saber mais. Não que esteja nos meus planos alguma vez tornar-me editor, mas se gostamos de conhecer os making of dos filmes, porque não descobrir um pouco mais sobre o making of de um livro? (Noto que repeti making of duas vezes no mesmo parágrafo. Ai as regras da escrita sintética. Ooops, três, com esta.)
Valeu a pena enfrentar a A8 encharcada e o trânsito enlouquecedor no Príncipe Real para contactar presencialmente com pessoas inspiradoras que se cruzam na vida virtual. E depois deste tempo bem passado amanhã tenho de ser monge senão as catorze páginas do artigo 3DAlpha não se transformam em dez devidamente formatadas para propor para o IPCE.
(Momento poético do dia: após estacionar saborear um cigarro debaixo da arcada enquanto a chuva caía em torrentes sobre as ruas do Chiado ao som do saxofone de um músico de rua que encantava com um jazz reminiscente de Miles Davis.)