quarta-feira, 18 de abril de 2012

Batalha


David Soares (2011). Batalha. S. Pedro do Estoril: Saída de Emergência.

Numa fábula negra com toques iniciáticos, David Batalha utiliza um dos mais clássicos artifícios do género. Dar voz aos bichos para que eles nos digam o que é andar em busca de identidade e compreensão do vasto e por vezes críptico mundo que nos rodeia. Sob o olhar de uma ratazana que se crê um rato e busca a compreensão vemos o desfilar da atrocidade humana. Soares é impiedoso ao olhar para a alma e mostrar-nos a violência inútil, a cupidez e inveja pura que nela reside. As colisões entre a ratazana e os homens são momentos de brutalidade boçal, até ao final da fábula em que alguém mais iluminado - não por acaso, certamente, um arquitecto, mostra o outro lado da alma humana: a capacidade de compreensão, o amor ao conhecimento, a honra individual. A jornada da ratazana Batalha é a metáfora do percurso que todos nós temos de fazer ao longo da vida. Alguns fazem-no vendados, outros procuram compreender o porquê dos caminhos e cruzamentos.

David Soares mostra-se um competente medievalista ao ligar esta fábula à construção do mosteiro da Batalha. A sua prosa surpreende pela complexidade e uso de expressões rebuscadas, muitas caídas em desuso. Mas não parece que simplicidade seja o objectivo desta singular narrativa.