sexta-feira, 16 de março de 2012

The Painting That Ate Paris

Grant Morrison pegou há uns anos em Doom Patrol, um comic de super-heróis de segunda linha e deu-lhe uma volta conceptual que introduziu em força o psicadelismo e a imaginação pura nos comics mainstream. Da temporada de Morrison à frente de Doom Patrol destaca-se o arco narrativo The Painting that Ate Paris pelo seu carácter surreal, bebendo inspiração a fontes tão díspares como a história da arte moderna, mitologia bíblica, absurdismo dadaísta e espiritualidades psicadélicas.

Os eventos são desencadeados pela Brotherhood of Dada, uma colecção absurda de vilões com poderes estranhos, que vão desde uma teleportadora cujo poder só se manifesta quando dorme a uma detentora de todos os super-poderes jamais imaginados. O líder, Mr. Nowhere, descreve-se apropriadamente como a encarnação do espírito abstracto do modernismo.


A pintura que engole Paris é uma obra recursiva, uma tela que representa uma tela que representa uma tela, ad infinitum.



O infinitesimal contém o infinito. Dentro da pintura, a cidade metamorfoseia-se em múltiplos níveis, cada um reflectindo uma corrente artística.

Mergulhamos no impressionismo, surrealismo, hiper-realismo (sem alma, como um dos personagens observa), fauvismo...
... construtivismo russo, pré-rafaelismo...

... nesta fase, o comic torna-se uma lição de história de arte moderna. A cada vinheta corresponde um estilo, e só dá pena ao leitor as ilustrações estarem constrangidas pelos limites da quadricromia do media.

Os super-heróis têm desafios maiores do que o banal combate aos vilões e salvação da cidade das garras nefárias do quadro ameaçador. Têm de enfrentar uma ameaça bíblica, um quinto cavaleiro do apocalipse que reside nas infinitudes recursivas da pintura e que ganha força absorvendo significados. Qual a arma secreta para o combater? O absurdo do dadaísmo. A ausência de significado derrota as mais resistentes metáforas.