quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Reamde
Neal Stephenson (2011). Reamde. Nova Iorque: William Morrow.
O que fazer a Neal Stephenson? Foi o autor de um dos romances de FC mais influentes de sempre, o divertido e intrigante Snow Crash. Legou-nos o technothriller Cryptonomicon, onde o avolumar de páginas já deixava suspeitar o que se ia passar a seguir: o infindo ciclo barroco. E agora larga-nos de chofre este pesadíssimo Reamde. Como é habitual neste escritor, este livro mistura um conjunto assombroso de ideias intrigantes, actuais e pertinentes que colidem nas suas páginas. Só Stephenson, daqueles autores contemporâneos com o dedo no pulso do estado das coisas, se lembraria de misturar no mesmo enredo mundos virtuais, hackers, fanáticos de fantasia, nova economia, ex-contrabandistas, cibercriminosos, mafya russa e operacionais da Al Qaeda às voltas num palco global onde húngaros, norte-americanos, russos, americanos de origem eritreia, anglo-asiáticos e chineses (amostra não representativa de etnicidades, a coisa vai bem mais longe) vive aventuras desventuradas numa área geoestratégica de segunda linha que oscila entre locais remotos na fronteira americano-canadiana, cidades chinesas de crescimento explosivo e selva filipina.
O leque é amplo, e é infelizmente desperdiçado pelo estilo literário excessivamente descritivo de Stephenson. Forçando-nos a ler a história sob uma vista hdr hiper-realista, obriga-nos a olhar para os pormenores mais esotéricos dos elementos mais banais. O resultado de tanto palavreado é desmoralizador. É ler um livro interessante nas suas ideias e premissas que no acto de leitura é um verdadeiro lodaçal. Parece que Stephenson só teria a beneficiar com uma edição mais sintética, porque em literatura pecar por excesso não é coisa boa.