domingo, 29 de janeiro de 2012

Tradições


Um dos mais curiosos pormenores da história do processo contra a Megaupload está no vir à luz de imagens icónicas do estilo de vida de um dos donos do site. A imagem é reveladora. Olha-se e lê-se "eis-me a mim, na praia paradisíaca ao pé do meu iate a apontar para a minha namorada boazona. Sou rico, e faço questão que se note". É uma imagem banal, a puxar à vulgaridade, mas não é inédita. Representações deste género são comuns na história de arte, em que um patrono endinheirado contratava um artista para o retratar a si e às suas posses. Nos ainda piedosos tempos medievais e renascentistas esta iconografia traduz-se em incongruente figuras ajoelhadas em primeiro plano a venerar cenas bíblicas. Com o crescimento da burguesia a piedade religiosa ficou para trás e este género de retratos reflectia exactamente a riqueza do patrono.


O que leva a esta pintura clássica do inglês Thomas Gainsborough. Pintada no século XVIII, não tem iates nem praias paradisíacas, mas o motivo é o mesmo: "eis-me, rico patrono, com a minha bela mulher, os meus belos terrenos e a minha bela espingarda". Ostensão pura de riquezas. É interessante ver como ao longo dos séculos mudam os adereços, mas o âmago das questões permanece o mesmo.