Hoje, em Lisboa, centenas de pessoas marcharam pacificamente para manifestar a sua indignação com o estado geral das coisas e as políticas governamentais. Poderiam ser mais, deveriam ser mais, e certamente que serão mais há medida que mais portugueses sentirem na pele o resultado de medidas de austeridade que parece desenhadas apenas para esfolar as classes médias e baixas do pouco que ainda têm. Horas depois, ver a cobertura televisiva quase dá vontade de rir. Se a RTP cobre a manifestação de forma isenta, a SIC destaca as pequenas acções violentas mas acaba por dar visibilidade ao lado pacífico da iniciativa. Já a TVI decide-se pelo sensacionalismo e faz parecer que Lisboa ficou a ferro e fogo debaixo de violentíssimos confrontos entre manifestantes.
Bem, eu estive lá. Por puro acaso, estava muito próximo do momento violento e apesar disso mal me apercebi do que aconteceu, tal a brevidade do triste acontecimento. Pouco mais vi do que o fumo de flares e uma rápida intervenção policial. Apercebi-me sim de uma marcha de cidadãos que independentemente das suas crenças políticas prescindiu de uma tarde de tradicional descanso para juntar a sua presença a uma manifestação de descontentamento pelo rumo que o país leva. E ao contrário do que foi veiculado por dois dos canais televisivos generalistas, não foi um momento de violência e confrontos.
Os meus familiares mais próximos telefonaram-me preocupados com o meu bem estar, ao ver as notícias sobre a manifestação. É um pequeno pormenor que sublinha a falta de isenção e baixa qualidade de algum jornalismo sujeito a diktats de linhas editoriais representativas da influência de grupos de interesse. Mas talvez não seja conveniente mostrar ao país que há pessoas que não estão de acordo com o estado das coisas. A falta de comodismo não ajuda às audiências de reality shows cretinos.