terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Bendita incompetência
Entre outras divagações intrigantes, Warren Ellis observa na sua apresentação na conferência Cognitive Cities que os governos agem de forma benigna quanto mais incompetente for a sua forma de agir. Isto porque quando há crises ou convulsões, demoram ou são incapazes de travar a forma mais óbvia de disseminar a informação através das redes digitais. Não o fazem por incapacidade técnica, mas por lentidão em compreender o real poder das redes de comunicação - virais, a disseminar informação em tempo real.
Esta incapacidade é profunda. Somos tutelados por responsáveis políticos que têm concepções difusas, caso as tenham, do mundo digital e são facilmente influenciáveis por grupos de interesse bem financiados. O que é algo que se estende a outros sectores da sociedade, como bem sabemos. Isso explica cretinices como a proposta norte-americana de lei SOPA que atropela direitos elementares dos cidadãos com possíveis repercussões globais, ou a nossa muito caça-tostões proposta de lei que criará uma taxa de propriedade intelectual ao megabyte para diminuir as repercussões da pirataria... e com isso encarecer estupidamente dispositivos de armazenamento que, enfim, tenham mais capacidade do que um punhado de megabytes. Que são praticamente todos os que estão disponíveis no mercado com projecções futuras de crescimento exponencial. Alguém na SPA se deve ter sentido muito inteligente por propor uma lei que lhes garante um rendimento elevado a troco de nada. Também ajuda a explicar um ministro da educação que acha que saber formatar documentos em aplicações office são as competências fundamentais de utilização de tecnologias digitais para a população de um país, porque o resto quem quiser aprende sozinho.
São estas as pessoas que têm o poder de passar leis que afectam o mundo digital. Boas perspectivas, não?