quinta-feira, 24 de novembro de 2011

The End: The Defiance & Destruction of Hitler's Germany 1944-45


Ian Kershaw (2011). The End: The Defiance & Destruction of Hitler's Germany 1944-45. Londres: Penguin Press.

Por entre os momentos terríveis da II Guerra Mundial, o seu apocalíptico final destaca-se pelo volume inaudito de destruição à escala continental Particularmente na Europa, onde a Alemanha e outros territórios ficaram reduzidos a escombros, numa destruição total nunca vista em guerras anteriores. Pressionado entre as forças aliadas ocidentais em França e pelas hordes soviéticas a leste, em 1944 o regime nazi já se havia apercebido que perdera a guerra. Porquê, então, o arrastar, as mortes desnecessárias, a destruição quase total de um país arrastado para lá do abismo por um regime criminoso?

As explicações habituais prendem-se com uma certa visão apocalíptica do regime nazi e com a intransigência dos aliados, que fincaram pé numa rendição incondicional. Kershaw mergulha mais fundo, e mostra-nos que se estes são dois de muitos factores que condicionaram as decisões que arrastaram inutilmente a guerra e levaram à destruição total de um país. Para o autor, a figura de Hitler é incontornável. Centrando o poder em si e no seu carisma, impediu a possibilidade de alternativas dentro do próprio regime e cultivou uma cultura de obediência que os altos responsáveis do regime respeitaram até ao seu suicídio. Mas se isso explica a lealdade dos líderes nazis, não ajuda a compreender a aparente resignação do povo alemão e dos soldados da wermacht. Aqui, o fanatismo e preponderância das estruturas do partido nazi, que eliminaram qualquer possibilidade de alternativa política e mesmo nos últimos e desesperados momentos insistiram no reforçar de insanas políticas de obediência assassina é o que ajuda a explicar a resignação de um povo que ao fim de cinco anos de guerra se vê no limite da aniquilação. Há ainda mais um factor a contabilizar: a selvajaria da guerra na frente leste provocou nos soldados e responsáveis alemães a consciência que iriam sofrer represálias violentas pelas suas acções contra as populações do leste europeu. E ainda havia aquela questão judaica, segredo demasiado bem conhecido que provocou sentimentos de horror entre tropas endurecidas pelos duros combates na frente leste. Os líderes nazis, conscientes dos seus crimes e da falta de futuro do regime, não procuraram outra saída que não a destruição total, disfarçada sob crenças em armas milagrosas ou numa clivagem entre os aliados... que de facto veio a acontecer, durante a guerra fria, mas na época da II Guerra a prioridade era eliminar o odioso regime nazi.

O herói inaudito desta história, se é possível que existam heróis em regimes criminosos e assassinos, foi Albert Speer, arquitecto das utopias edificadas para Hitler e que como ministro dos armamentos conseguiu manter a produção industrial muito para lá do possível.

Kershaw analisa profundamente as razões que mantiveram o regime nazi em guerra para além do sensato e deram um novo significado à expressão guerra total. O resultado é um retrato aterrorizante de uma época que, esperemos, seja uma lição de história jamais esquecida.