quinta-feira, 10 de novembro de 2011

É De Noite Que Faço As Perguntas


David Soares, et al (2011). É De Noite Que Faço As Perguntas. S. Pedro do Estoril: Saída de Emergência.

É sintomático que a abertura desta sinfonia gráfica lisboeta se inicie com icongruentes imagens televisivas de multidões a puxar uma enorme esfinge. Parece ter pouco a ver com o tema da obra - uma visita à Lisboa das primeiras décadas do século XX, entre o final da monarquia e primórdios do estado novo. Mas esta esfinge, ou antes, a multidão ululante que a carrega e aclama, é a chave de um livro fortemente crítico do impacto humano dos ismos políticos que alastraram pelo século XX e ainda hoje medram. Seguir cegamente ideais e líderes é caminho certo para a desumanização, e humanismo é o que transparece na narrativa do protagonista, que acompanha com algum idealismo, fatalismo e ingenuidade as convolutas voltas da política portuguesa, das revoltas anti-monárquicas às trincheiras da flandres, culminando na ascensão do estado novo. Como prefácio e posfácio, uma mensagem pessoal escrita sob protecção das trevas nocturnas, enquanto pelas ruas marcham legiões de seguidores de um qualquer ismo hipnotizador.

Escrito por David Soares, este álbum conta com ilustração de Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho, Daniel da Silva e Richard Câmara, cujos expressivos estilos individuais conferem um carácter quase de mosaico que ilustra as múltiplas dimensões da narrativa.