A novidade da organização curricular do próximo ano lectivo é o desaparecimento de Área de Projecto. É uma notícia que deixa muitos professores a suspirar de alívio, pelo menos até se aperceberem do que o anular de uma área pode provocar na disponibilidade de horários nas escolas. Pessoalmente, lamento este desaparecimento, e não por questões laborais.
O que deixava muitos professores irritados com Área de Projecto era o seu carácter aberto, sem programa, a necessitar de definição interdisciplinar de actividades. E aqui a coisa falhava. Faltando ideias e criatividade, estar nesta área é doloroso. Por outro lado, para quem defende que a educação necessita de maior dinamismo e criatividade, esta área curricular não disciplinar era um momento excelente para criar projectos interessantes e motivantes para os alunos. Requeria flexibilidade por parte dos docentes e um espírito de atelier, que entrava em conflito conceptual com a tradicional formalidade da sala de aula. Fazer desaparecer esta área do currículo é eliminar o único espaço onde a criatividade tinha a primazia sobre a aprendizagem de conteúdos formais e onde estes poderiam ser utilizados na construção de produtos cuja concretização requeria contribuição de diferentes áreas de saber. As disciplinas de ensino artístico têm a capacidade de investimento no desenvolvimento da criatividade mas estão necessariamente restritas pela obrigação de cumprir um programa.
Mas a filosofia ministerial mudou, se é que alguma vez houve filosofia ministerial bem definida. Agora temos de investir em regressar aos cantinhos e treinar os alunos para terem desempenhos razoáveis em exames, esquecendo-nos que talvez mais importante que o desempenho a curto prazo é a formação a longo prazo de um indivíduo. Sem desprezo pelos saberes académicos e pela necessidade de medição de desempenho dos alunos num sistema educativo, não será mais pertinente investir no desenvolvimento cultural de um indivíduo do que no simples acertar de perguntas em testes? Quando pensamos no aprender estamos ainda muito viciados no saber teórico quando cada vez mais temos de ter a capacidade de aplicar o saber teórico. A inovação de que este país tanto precisa requer criatividade alicerçada em conhecimento e não a capacidade de responder acertadamente a perguntas. Eu, pelo menos, penso e trabalho assim.