segunda-feira, 11 de julho de 2011

Lisboa Triunfante


David Soares (2008). Lisboa Triunfante. Parede: Saída de Emergência.

Olhar para esta obra de David Soares é uma tarefa complexa. Misto de romance histórico com horror, destaca-se por uma profunda erudição espelhada na caracterização de Lisboa ao longo de diferentes épocas históricas e uma forte componente metafísica que reflecte sobre as dualidades que caracterizam a história humana.

Neste romance, Lisboa é o palco de uma batalha intemporal entre duas forças que apesar de opostas se complementam, uma representando a imaginação criativa com um toque trapaceiro e outra o poder da lógica e da razão que destrói para reconstruir. Estas encarnam-se nas figuras da Raposa, remetendo para O Romance da Raposa de Aquilino Ribeiro e para as epopeias medievais do Roman de Rénard antecessora da obra de Aquilino, e na figura do Lagarto, eterno opositor da criatura matreira e trapaceira cuja voz melífula convence o mais empedernido dos cépticos.

As sementes da batalha são lançadas na época pré-histórica, num tempo em que os neandertais enfrentam a extinção face ao homo sapiens, e Lisboa desenvolve-se e evolui ao sabor da tensão entre as duas forças em violenta oposição. Os homens, com os seus sonhos, esforços, ânsias e crenças, são meros peões numa luta titânica que ultrapassa os limites do nosso universo. É também um combate sem fim, espelhado numa circularidade que se eterniza reflectindo a complementaridade entre as duas forças.

O poder descritivo e erudição de David Soares mergulham-nos na Lisboa de diferentes épocas em descrições vívidas que espelham com rigor histórico as vivências e o sentido espacial da cidade. É toda uma faceta de enorme valor nesta obra, assinalável pela sua profundidade que ultrapassa os limites da literatura de género a que este autor está associado.