domingo, 17 de julho de 2011
The Girlfriend Experience
Muito surpreendido com este filme, que visita a via de uma acompanhante de luxo. O tema do filme é titilante e presta-se a abordagens de estilo porno-chachada, com muito marmelanço, maminhas e rabinhos ao léu cobertos com um argumento delicodoce para dar uma cobertura mais cultural à coisa. Soderbergh foge desses estereótipos com uma obra profundamente desumanizante, onde impera o anonimato e o sentimento de estarmos a olhar para momentos fugazes de caras perdidas na multidão de uma grande metrópole. O distanciamento e falta de empatia com as personagens é sublinhado pelo sentido não linear da narrativa, uma colagem de momentos cuja sequência cronológica é distorcida, e pela estética de baixa resolução do filme. Por muito que queiramos sentir algo pelas personagens, a sua falta de densidade quebrada apenas por fugazes e incómodos momentos em que as emoções se reflectem nos rostos, impede alguma identificação com estes. O apagamento emocional, a frieza e distanciamento são uma das marcas deste filme.
A cinematografia destaca-se pelo carácter arrojado, solto, onde os enquadramentos estão em movimento, o sentido de fluxo é constante, os pormenores mais banais destacam-se no olhar e se chega ao sacrilégio de desfocar o primeiro plano em cenas de diálogo. Tudo isto confere ao filme uma cuidada estética de baixa resolução que obriga o cérebro do espectador a um agradável esforço de descodificação de sentidos.