quarta-feira, 13 de abril de 2011

The Demon


Isaac Bashevis Singer (2011). The Demon. Londres: Penguin.

Há formas menos curiosas de ficar a conhecer um escritor. Para mim, o nome dee Isaac Bashevis Singer surgiu graças à simpática canção homónima dos The Owls ouvida de passagem no Motel de Moka e um artigo na New Yorker. Foi com muita curiosidade que peguei nesta edição da Penguin Modern Classics de The Last Demon, coligindo três contor de Singer. Fiquei agradavelmente surpreendido com a prosa segura e elegante, com uma simplicidade e um fino bom humor, que tanto nos remete para o mundo desaparecido dos povoados judaicos do leste europeu como para uma Nova Yorque de um certo tom nostálgico.

The Last Demon, conto que dá título a esta obra, envolve um demónio que é enviado para uma aldeia esquecida para tentar o impossível e fazer cair em tentação um rabi conhecido pela sua pureza. Falha redondamente, e vai passando os seus dias esquecido, resíduo de uma era violentamente extinta pelas botas cardadas nazis e soviéticas. Em Yentl, Singer conta-nos uma história de androgenia através de uma mulher que se recusa a assumir as funções tradicionais e, disfarçando-se de homem, entre para uma yeshiva e trava uma amizade com um colega que assume contornos de amor e dedicação. The Cafeteria, a terminar o livro, coloca nas bizarrias de uma sobrevivente de um outro holocausto, os gulags soviéticos, que ao longo de vários anos vai cruzando o seu caminho com o do autor, uma reflexão sobre a aniquilação histórica de uma cultura e o trauma dos campos de concentração.

De origem polaca mas tendo vivido muitos anos em Nova Yorque, Isaac Bashevis Singer manteve-se fiel à tradição judaica, quer pela escolha de temáticas quer pela língua em que escrevia, o iídiche, de tal forma que é talvez o único escritor americano contemporâneo cujas obras são traduzidas para o inglês. Estruturalmente perfeito e dono de uma elegância linguística assinalável, Singer merece uma leitura atenta.