sábado, 8 de janeiro de 2011

Utensílios

A seguir uma discussão no Interactic sobre iPads nas escolas, que está a ser bem interessante e estão a ser levantadas questões muito importantes quer em relação ao papel da tecnologia quer ao do professor num futuro próximo.
- em primeiro lugar, a questão do hardware: mais do que marcas, o preço, potência, expansibilidade e flexibilidade são as questões que me parecem essenciais. aqui confesso-me já um anti-mac irredutível - não por desprezar as qualidades do hardware e software (e o design lindo de morrer), mas por os achar demasiado caros, com um culto quase religioso pela marca e com um princípio subjacente de computação como electrodoméstico. antes de começarem a atirar os tomates e os ovos podres, recomendo uma vista de olhos ao the future of the internet de Jonathan Zittrain e creio que poderão entender melhor esta minha postura.
- serão os tablets o futuro da computação? na minha opinião, sim. odiei os tempos dos desktops, em que era obrigado a isolar-me no atelier/escritório/sala/gabinete para utilizar o computador. agora com um tablet posso ir para a esplanada, e fazer o que mais gosto ou necessito num ecrã de tamanho decente. finalmente (mas hoje não que chove torrencialmente e ainda encharco o brinquedo)! há ainda um longo caminho a percorrer, em termos de potência das maquinas e disponibilidade de aplicações (there's an app for that, quer ios quer android, mas ainda há muitas coisas que ainda não há apps - assim de repente, desenho vectorial, 3D ou vrml/x3d, que são as áreas em que invisto na minha prática pedagógica e onde curiosamente os malfadados magalhães me estão a surpreender pela capacidade de correr aplicações que requerem uma certa potência)
- irão os nossos alunos conseguir utilizar estes equipamentos da forma que nós gostaríamos? bem, não. como todas as crianças - e todos nós, vão optar primordialmente pelos seus interesses. cabe aqui um papel fundamental ao professor - mostrar possibilidades, aplicar concretamente, e também disciplinar a sua utilização. dizia a minha mãezinha que há momentos para tudo - e sublinho essa lição sempre que na minha sala os alunos ligam os computadores e tentam ir à net. simplesmente sublinho que estão num momento específico, com tarefa específica, e disciplino a utilização dos equipamentos. se não o fizermos, o nick carr (http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2008/07/is-google-making-us-stupid/6868/) e companhia têm toda a razão.
- subjacente a tudo isto, está o papel do professor e a sua redefinição nesta era em que os paradigmas educativos estão a mudar. a transmissão de saberes continua a ser fundamental. por muito adepto que se seja da auto-descoberta, o mostrar, divulgar, abrir horizontes é elementar. mas os meios de que hoje já dispomos para o fazer têm o potencial de alterar profundamente as pedagogias, a gestão dos espaços e tempos escolares, se tivermos a capacidade e abertura pessoal e institucional para o fazer. a coisa aqui depende bastante da área de conhecimento em que se trabalha, das que dependem mais da aquisição de conhecimentos às que exigem criatividade. mas o potencial dos diferentes recursos - desde as apps/quizzes de apoio a ambientes virtuais tridimensionais de simulação é enorme e ainda parece estar no seu início. e sim, as pessoas - as suas aprendizagens, motivações, personalidades, estão no centro do processo de ensino/aprendizagem. os tablets e outras tecnologias são "meros" utensílios.