domingo, 30 de janeiro de 2011

Accelerando



Charles Stross (2005). Accelerando. Nova Yorque: Ace Books

Accelerando (HTML, ePub, Mobi, RTF)

Há livros que nos atingem como um murro com o seu futurismo desbragado Este é um deles. Cada página lê-se como um inventário de conceitos trans e pós-humanistas, com uma grande dose de utopismo digital à mistura. Estruturalmente, Accelerando lê-se como uma versão cibernética do Schismatrix de Bruce Sterling, onde o transhumanismo bioengenhado é substituído por um pós-humanismo tecnológico.

É uma obra ambiciosa. O arco é longo, iniciando-se num futuro próximo e terminando num futuro onde o tempo cronológico deixa de fazer sentido. Segue as aventuras e desventuras da dinastia Mancx, iniciada por um futurista bleeding edge que vive na crista da onda tecnológica, iniciador de ondas de choque técnicas a qualquer momento do seu dia, criativo que liberta todas as intuições e criações no domínio público. A transcendência cristaliza-se na personalidade da filha, destilada de um centro de reprodução artificial e que acaba por partir à descoberta dos limites do universo, através da exploração de um artefacto alienígena encontrado nas fronteiras do sistema solar que é um router que dá acesso às auto-estradas galácticas da informação. Por detrás da cortina está uma inteligência artificial que se encarna como um gato, que no final do livro surge como uma entidade que ao longo dos tempos manipulou os personagens obrigando a humanidade a dar um longo salto evolutivo.

Quanto a conceitos futuristas... temos um pouco de tudo. Lagostas digitais inteligentes, que ganham consciência como consequência de explorações da digitalização da mente, interconectividade total entre o ser e o mundo digital, ambientes virtuais habitados por cópias conscientes de pessoas, a economia como ser sentiente autónomo, visões de uma humanidade que se digitaliza e transforma o sistema solar num vasto computador, divisão de um ser humano em múltiplas cópias igualmente conscientes, civilizações galácticas que vivem num perpétuo estado digital... entre outros voos de futurismo profundo.

Deste livro retiro duas expressões que caracterizam muito bem estados contemporâneos: the burn of the new, usado pelo autor para descrever a sede de novidade para lá da crista da onda, e cognitive dissonance, significando momentos de incompreensão devido à falta de estruturas cognitivas capazes de abranger as novidades trazidas pelas mudanças.