domingo, 5 de dezembro de 2010

Wiki Fun

Não deixa de ser divertido ver as repercussões do último escândalo provocado pela organização Wikileaks. É também curioso que se esteja a dar mais atenção a esta história dos telegramas confidenciais, que na verdade não revelam nada que não seja já do conhecimento público, do que o escândalo anterior, que revelou imagens do assassínio de jornalistas e civis por parte de pilotos militares americanos no Iraque. Afinal, os detalhes íntimos das figuras de proa internacionais são mais interessantes do que a morte de uns quantos cabeças de turbante.

É também interessante assistir à campanha organizada para desacreditar e fazer desaparecer a organização. Julian Assange, a sua figura mais visível, está a ser retratado como um criminoso em fuga e os sites da Wikileaks estão sob ataque constante, quer de DOS quer de pedidos expressos às empresas de hosting para os colocar fora da rede.

Por detrás das notícias escandalosas e dos ataques a Assange, parece estar uma ideia que apesar de sermos cidadãos e vivermos em democracias, há coisas que não temos que saber e devem ser deixadas nas mãos de cabeças pensantes, eminências cinzentas que sabem o que é melhor para nós e não só não devem ser questionadas como as suas acções devem ficar ocultas do público. Quanto à personalidade de Assange e à organização em geral, é curioso notar que a Time não está a seguir a linha de pensamento convencional e para quem quiser saber um pouco mais sobre o quase autista líder da Wikileaks e o modus operandi da organização pode ler este perfil na Wired.

Sim, a internet é um lugar assustador. Por muito que alguns queiram que pensemos que é apenas um lugar divertido para ver vídeos de cretinices no YouTube, partilhar inanidades no Facebook e adquirir apps para os gadgets do momento com um lado obscuro que convém evitar e, nalguns casos, é bloqueado pelos operadores, a rede é uma força transformativa que vive do poder da colaboração. Grupos de interesse dispersos geograficamente que até agora não tinham forma de comunicar podem juntar-se e criar organizações como a Wikileaks, com missões dedicadas, no caso de tornar transparentes os segredos dos governantes do mundo em nome da democracia e cidadania. No novo ecossistema da internet os velhos paradigmas desmoronam-se.