quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Evangelho do Enforcado



David Soares (2009). O Evangelho do Enforcado. Lisboa: Saída de Emergência.

Com o seu estilo literário muito pessoal, David Soares visita a Lisboa quinhentista numa história que através dos mistérios dos Painéis de S. Vicente nos mergulha no fervilhar do Portugal pré-descobrimentos.

Neste livro há duas grandes linhas narrativas que confluem. Por um lado, a história da história, do Portugal que começa a sua expansão com a conquista de Ceuta e as intrigas palacianas que envolvem os infantes lusos, centrada na visão pessoal do Infante D. Henrique, apresentado com um asceta amante corpos juvenis. Por outro, a história pessoal de Nuno Gonçalves, a quem se atribui a autoria dos Painéis de S. Vicente, desde o seu nascimento numa aldeia próxima de Lisboa até ao momento em que cria as icónicas pinturas que representam o país no dealbar dos descobrimentos. É nesta história que David Soares dá mais asas ao seu imaginário, recriando a biografia do pintor com retoques míticos onde criaturas escatológicas o levam a tornar-se um serial killer das ruelas da cidade quinhentista, em busca de inspiração para uma obra pessoal que acaba por perecer num incêndio que devasta a cidade.

Misturando romance histórico com o fantástico em visões pessoais, O Evangelho do Enforcado oscila entre uma sólida caracterização de época e momentos onde o irreal se concretiza na prosa límpida deste escritor.