Iain M. Banks (2010). Transition. Londres: Abacus.
Transition
Banks é um dos melhores autores contemporâneos de FC, conhecido pelas suas abrangentes Space Operas passadas no intricado mundo fantástico conhecido como The Culture. Mas este autor é mais flexível do que o nicho literário que o tornou famoso, e Transition, pendendo mais para a literatura clássica do que o registo de FC, demonstra isso.
O ponto de partida deste romance está na ideia de universos paralelos. Na obra, estes são acessíveis não através de complexas engenhocas científicas, mas por uma droga capaz de efectuar a transição da mente do viandante entre mundos por entre corpos que habitam as realidades paralelas. Uma organização todo-poderosa cujos elementos do círculo mais elevado são para todos os efeitos imortais controla o acesso às realidades paralelas, mas é alvo ao mesmo tempo de conspirações interiores e exteriores cuja colisão acaba por pôr termo à capacidade de transicionar entre realidades, abandonando cada elemento numa realidade fechada.
A história é narrada na forma de recortes em diferentes pontos de vista, reflectindo as diferentes visões de vários personagens-chave da narrativa. A todas as vozes sobrepõe-se a de Temudjin Oh, principal personagem, assassino a soldo da organização especializado em missões que raramente questiona, mas que é forçado a questionar os reais propósitos da organização envolvendo-se mais profundamente do que quer nos diferentes níveis conspiratórios. Outras personagens são retratadas, nomeadamente um inquietante ex-polícia torcionário intitulado como filósofo, enclausurado numa realidade que lhe é estranha mas da qual não pode sair, uma elegante mulher de idade indeterminada que está no centro da organização, uma paciente incógnita que no final do livro se revela como um némesis para as capacidades de transição no multiverso, um ex-traficante de cocaína transformado em tubarão da alta finança que é recrutado como agente da organização na realidade que nos representa, retratada nos anos que decorrem entre a queda do muro de Berlim e os ataques do 11 de Setembro, e diferentes personagens secundárias cujos pontos de vista são importantes em certos momentos da narrativa.
Este carácter de narrativa-collage confere um interesse especial ao livro, levando o leitor a imbricar-se num contar não linear de histórias. A capacidade criativa de Banks no imaginar de diferentes realidades, embora aqui não tão detalhada como nas suas obras mais conhecidas, levanta um véu de possibilidades fascinantes. Somente o final, anti-climáctico mas previsível, deixa um pouco a desejar neste romance interessante.
