quinta-feira, 11 de novembro de 2010

The Social Network



Não sabia muito bem o que esperar deste filme, se um dramalhão hollywoodesco ou uma longa hora e meia de product placement. O filme não desiludiu. Forneceu as duas experiências.

A história por detrás de The Social Network é uma crónica da criação do Facebook, o corrente ponto de interesse da Internet. Sendo essencialmente uma crónica de decisões técnicas e financeiras, o filme tenta gerar alguma empatia através de uma história de amores e amizades traídas no jogo intenso da economia dos new media. As personagens são fortemente superficiais, sem qualquer densidade que lhes transmita carácter próprio. No papel de Mark Zuckerberg, criador do Facebook, Justin Timberlake limita-se a uma representação quase autista de um homem que age como sendo mais inteligente do que todos os outros. E esse é o ponto alto da arte de representar neste filme.

Há duas cenas que chegam a ser interessantes. Numa, um momento de criação envolvendo hacking e algoritmos avançados é apresentado de uma forma tão intensa que me fez recordar os estado de fluxo criativo de Csikszentmihalyi, capturando os intensos momentos em que estamos a criar algo, abstraídos de tudo o resto. Outra, passada numa regata de remos britânica, mostra-nos o lado esteta do realizador, David Fincher, a filmar quase toda a cena com técnicas de fotografia tilt-shift, criando um atraente ar pueril. E pronto. Tudo o resto se resume a flashbacks, discursos cheios de hubris e longas reuniões entre equipas de advogados de dentes afiados.

Não deixa de ser fascinante que este seja talvez o mais longo anúncio da história. Para além da omnipresença da ideia do Facebook, o filme está repleto de product placement descarado. As roupas da Gap, North Face e Brooks Brothers são mostradas com grande destaque aos logotipos, abundam Vaios em primeiro plano, e só não acertamos com as marcas das bebidas porque, enfim, nos nos Estados Unidos não se bebe Sagres. Mas confesso que tive um certo orgulho em ver no final do filme Zuckerberg a teclar num vaio igualíssimo ao meu.

Entediado com o desenrolar deste filme, entretive-me a tentar reparar nos pormenores mais geek. É interessante notar que os personagens técnicos utilizam sempre KDE, por vezes a correr Windows XP em máquinas virtuais. Os que estão ligados aos negócios ficam-se pelo Windows e os consumidores hip usam Macs. É o retrato de um dos estereótipos da informática. Também foi simpático ver um SonyEricsson P910i a funcionar e uma aparição do Bill Gates.

Com a fama e popularidade do Facebook, este filme vai atrair audiências não pelas suas (poucas) qualidades intrínsecas, mas porque desperta a curiosidade sobre o site que é o vício contemporâneo de milhões de pessoas. Mas a internet é um local fortemente efémero. Hoje a mania é o Facebook, e amanhã?