Ainda a ruminar a primeira experiência prática com os alunos e o 3D. Antes da sessão estava um pouco ansioso. Não sabia o que esperar, e tentava colocar de lado as minhas experiências prévias, recordando-me que não estava a trabalhar com alunos do segundo ciclo, que as crianças do primeiro ciclo, com as quais tenho experiência nula exceptuando os já longínquos tempos de estagiário, são bastante diferentes do que as com que estou habituado a trabalhar. Da sessão introdutória sabia que o interesse é grande, mas tinha medo que os alunos, devido ao nível etário e características escolares, não conseguissem dar a volta ao interface do Bryce em inglês. Para piorar um pouco a coisa, grande parte dos computadores deles ainda não tinham as aplicações instaladas, apesar dos esforços da primeira sessão. E restava a questão técnica: será que um computador magalhães é capaz de correr o Bryce sem problemas, e do ecrã diminuto funcionar como área de trabalho?
Iniciei com uma exploração do objectivo da sessão: criar uma paisagem com elementos simples e manipulando céus. Deixei os alunos a trabalhar sozinhos enquanto terminava as instalações em diversos computadores. Os resultados? Tirando dúvidas pontuais, os alunos depressa perceberam como trabalhar com o Bryce e ficaram durante as horas seguintes entusiasticamente a criar paisagens. O tempo de renderização para eles é desmotivador, mas terei de os fazer compreender que é uma questão intrínseca ao 3D. Não saíram obras primas, uma vez que foi a primeira sessão de trabalho efectivo, mas fiquei muito surpreendido com a facilidade e flexibilidade com que os alunos se adaptaram ao programa. Mesmo muito surpreendido. Ao chegar o final da sessão ainda tive tempo de os desafiar com exercícios de composição, criando uma casa com formas primitivas. Os resultados finais podem não ser bonitos aos meus olhos, mas a maior parte dos alunos ficou tão orgulhosa que os colocou como fundo do ambiente de trabalho. É sintomático.
Alguns dos alunos que já tinham as aplicações instaladas divertiram-se no fim de semana a criar avatares do Avatar Studio e a brincar com o Google Sketchup. Note-se que são alunos de 3º ano... com 8 anos de idade.
Ainda estou indeciso quanto ao próximo passo. Terei de reforçar o Bryce, claro, mas repetir paisagens pode ser cansativo. Talvez opte pela exploração de texturas e formas primitivas ou simetrias espelhadas. A animação 3D está no horizonte, uma vez que a professora titular da turma propôs a participação num concurso de contar histórias em audio ou vídeo. É aqui que reside outro pormenor interessante desta experiência: este toque de interdisciplinaridade, neste caso entre ciclos. A interdisciplinaridade é uma daquelas ideias óbvias raramente concretizadas em educação. No caso da minha disciplina, é clássica a discussão se poderíamos sincronizar trabalhos práticos de geometria com matemática, ou o retrato com língua portuguesa, entre outros exemplos, que raramente passam da intenção. Se calhar estamos a abordar esta questão do lado oposto, de forma excessivamente formal. Talvez a melhor forma seja abandonar a ideia de conciliar e sincronizar conteúdos entre disciplinas e apostar em projectos com alguma abrangência que permitam abordagens a cada área do conhecimento. Assim por alto, neste projecto fortemente experimental (não estando, como no ano passado, espartilhado pelas regras de um trabalho de dissertação), quer eu, professor de EVT do 2º Ciclo (e não de informática, repito pela enésima vez) e a professora titular do 1º Ciclo estamos a abordar as expressões, as TIC, e em breve o corpo humano.
Terça feira regresso à sala do 1º Ciclo. O que me esperará?