Começo a ficar deprimido sempre que vou à Fnac. Não por não ter dinheiro suficiente para comprar todos os livros que me interessam, nem por falta de tempo para os ler. Na questão do tempo, as curvas inglórias da vida até me estão a dar bastante para me dedicar às leituras.
Na secção de livros importados, o espaço dedicado ao horror e fantasia é grande. Em FC, fica-se por duas ou três prateleiras sem grandes novidades. Na literatura traduzida, o mesmo, com ainda menos livros de FC. Descortinei J.G. Ballard e William Gibson relegados para as secções de literatura e estranhamente o último do Neal Stephenson encontrava-se entre obras de fantasia (raciocínio possível: como o livro envolve monges alienígenas, deve ser fantasia...).
Nos DVDs, a coisa ainda é pior. Há uma secção de filmes de terror bem artilhada, mas quaisquer filmes de FC têm de ser dolorosamente localizados nas outras secções. Também concedo: são poucos os filmes do género verdadeiramente bons (e não, a interminável saga da Guerra das Estrelas ou a variação western no espaço que é o Star Trek se qualificam).
Surpreendeu-me a existência de uma nova secção fílmica e literária destinada ao público gay/lésbico, onde inexplicavelmente se encontrava o Sexus de Henry Miller. Quem leu este clássico erótico do Alto Modernismo, mistura visceral de recordações ao jeito de Proust e monólogos interiores de uma molly bloom surrealista percebe que este é talvez o menos LBGT de todos os livros, mas enfim.
Isto não é um resmungo homofóbico. Até me sinto orgulhoso por numa das maiores e mais populares livrarias lisboetas este nicho ter tanto destaque. É sinal de uma sociedade mais aberta. Só resmungo porque o meu nicho, a Ficção Científica, parece estar a desvanecer-se...