segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Millenium People



J. G. Ballard (2003). Millenium People. Londres: HarperCollins
Spike Magazine | J G Ballard : Millennium People : Entertaining Violence

Ballard é o Le Corbusier da literatura. Frio e preciso, colocou a mão no pulso da modernidade contemporânea - o urbanismo alienante e os indivíduos solipsistas obcecados na vivência das suas neuroses. Este livro tem todas as peças do puzzle que é um livro de Ballard, mas falta qualquer coisa nesta história de um grupo de pessoas da classe média que ao concluírem que são o novo proletariado se revoltam, quase proclamando um estado anarquista num condomínio fechado, vista pelos olhos de um psicólogo complacente que se sente atraído pelo despertar da violência visceral. Por detrás está a obsessão de um pediatra especializado em crianças com doenças terminais que desenvolve uma atracção estranha pelo psicólogo, manifestada por um acto de terrorismo num aeroporto que mata a ex-mulher deste e o leva a embrenhar-se num grupo de pessoas classe média - uma professora de estudos de cinema, um padre que perdeu a fé e a sua namorada asiática, e uma engenheira química que fetixiza explosivos, empenhadas a despoletar a nova revolução urbana que irá abalar os grilhões dos empréstimos habitacionais, taxas de condomínio e todos os restantes sorvedouros de dinheiro da classe média.

Apesar de interessante e de ter todos os ingredientes de um romance de Ballard - as personagens solipsistas, as frases acutilantes e a sensação de desolação urbana, este livro fica bastante àquem de obras como HighRise ou Running Wild, sublimes reflexões sobre a violência oculta sob os brandos costumes da população educada. Mas vale a leitura, porque só este escritor consegue encontrar a poesia latente nas paisagens banais da urbanidade contemporânea.