terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Mudanças
Manhã passada em visita ao museu da ciência. Na visita ao auditório e laboratório de química recentemente restaurados foi impossível não reflectir o quanto as nossas ideias de educação e aprendizagem mudaram num século. Num anfiteatro semi-circular, onde o professor discursava para os seus alunos, a animadora que nos acompanhou contou-nos que nos tempos áureos daquela sala havia uma cancela a separar alunos de professores. Não era suposto colocar dúvidas, questionar ou experimentar. Os alunos que eu acompanhava ficaram surpreendidos. Em seguida, visitámos o laboratório de química. Aí, outra revelação: naqueles tempos, para aprender química via-se o professor a ordenar a um preparador que realizasse uma experiência. Ao aluno restava observar, sem questionar. Até ser introduzida, em meados do século XIX, uma importante inovação que sem dúvida provocou discussões acaloradas entre os académicos, com alguns certamente a prever a destruição das aprendizagens pela nova medida: a possibilidade dos alunos manipularem algumas substâncias. Ainda longe do professor, ainda longe dos equipamentos.
Um aluno perguntou, brilhantemente: então como é que eles aprendiam? Subjacente à questão estava o como é que aprendiam sem experimentar, sem mexer, sem interagir. É uma questão reflecte o quanto mudaram os conceitos de ensino e aprendizagem no espaço de um século. Mesmo assim ainda resta muito que modificar, ainda nos baseamos muito no treino e memorização de conceitos (capacidades úteis para obter bons resultados estatísticos em exames) e descuramos o experimentar, reflectir, rascunhar, criar e simular (capacidades críticas para agir na complexa sociedade global contemporânea). Afinal, uma sala de aula contemporânea não é radicalmente diferente de um anfiteatro do século XIX.