segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

1963



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1963 Annotations

Saída da imaginação por vezes perversa mas sempre intrigante de Alan Moore, esta série de seis comics homenageia e ironiza o aranque da Marvel no mercado dos super-heróis. Os heróis icónicos são recriados, as histórias são fieis ao estilo dos anos 60 e o grafismo, da responsabilidade de Rick Veitch e Jonh Totleben, revisita os estilos de Jack Kirby e Steve Ditko. Sendo uma obra de Moore, os detalhes são imensos, desde a reinvenção dos nomes dos autores ao estilo marvel a referências a histórias cruzada publicadas em comics inexistentes (mais uma vez, ao estilo da continuidade da Marvel).



O simplismo dos argumentos é aparente. Para lá do revisitar e reiventar de personagens clássicos, ainda há tempo para meditações sobre a história humana, a estranheza dos espaços matemáticos n-dimensionais, metafísica bebop e uma lição de mitologia egípcia. Traduzindo: num dos livros, o personagem USA (Ultimate Special Agent, revisitação do icónico Capitão América) trava o assassinato de Kennedy, apenas para descobrir que os assassinos foram travados por um viajante temporal que se justifica com acontecimentos futuros; a versão 1963 do Homem de Ferro, denominada Hypernaut, luta contra um monstro surgido do espaço quadridimensional que se revela em segmentos tridimensionais - e sim, cita o Flatland de Abbott numa lição de geometria a quatro cores. A reinvenção do Dr. Estranho dá-nos Johnny Beyond, um místico beat decalcado dos romances de Jack Kerouac (que será novamente citado quando outro personagem é mostrado a ler um romance de cordel intitulado On The Road). Thor é revisto como Hórus, senhor da luz, numa história em que Moore se diverte a resumir a mitologia egípcia (e Rick Veitch desenha uma muito sensual Nut). As referências são múltiplas. O Quarteto Fantástico, primeiro comic do género da Marvel, é reinventado como o Mystery Incorporated. Outra personagem icónica da Marvel, o Incrível Hulk, é redefinido como o gigante radioactivo N-Man. Fury é o redesenho do Homem-Aranha. Os Vingadores, a super-equipe da Marvel, é reconstruída como o Tomorrow Syndicate. Os personagens recriados são homenagens aos originais e não cópias decalcadas. Partindo de premissas similares, Moore alterou subtilmente as suas géneses e capacidades.

Nem todas as histórias pegam em temas mais elevados. Fiel ao espírito dos comics dos anos 60, Moore mergulha-nos em lutas titânicas contra dinossauros mutantes, cérebros soviéticos gigantes ou anomalias atómicas.



O grafismo da série é muito cuidado. À primeira vista é em tudo similar aos comics dos anos 60. O estilismo, uso de cores e perspectiva e em especial a composição de cada vinheta imita com muita fidelidade o estilo clássico da Marvel nos anos 60, remetendo para o estilo plástico de Jack Kirby e Steve Ditko.



O grande final da série que nunca chegou a ser concluída mergulha os personagens recriados num mostruário de possibilidades infinitas - numa das quais, a contrapartida são super-heróis criminosos, com Ahriman como líder (e mais uma pequena lição de mitologia em poucas vinhetas), e noutra uma terra radioactiva onde a crise dos mísseis de cuba não foi satisfatoriamente resolvida. Tudo isto mediado por uma agência burocrática interdimensional onde para se obter informação é necessário esperar várias horas e, com sorte, se se estiver na fila certa a resposta pode ser positiva. A inconclusividade foi não intencional. Apesar do potencial, o planeado não era criar novos personagens e manter as respectivas séries, mas o último número nunca foi concluído. E é melhor assim. Fica como mais um elemento de homenagem ao gosto nostálgico pelos comics dos anos 60.