segunda-feira, 5 de outubro de 2009

The Family Man



Jamie Delano (argumento)(2008). John Constantine Hellblazer: The Family Man. Nova Yorque: DC Comics.

Straight To Hell

Quando Alan Moore criou uma personagem anti-heróica, cínica e bondosa mas manipulativa, visualmente inspirada em Sting e sempre acompanhada da gabardine laranja e cigarros, estava talvez longe de imaginar a popularidade que viria a adquirir. John Constantine era um irritante inglês que manipulava o vegetalista Monstro do Pântano para cair em aventuras que o obrigavam a aprender mais sobre si. A dinâmica entre os dois personagens, uma relação necessidade/inimizade, era um dos motores do percurso influente de Moore que relançou um comic de segunda linha. O carácter de Constantine atraiu os leitores e o personagem estreou-se em título próprio. Não querendo perder os leitores, a DC apostou na contratação de argumentistas britânicos e inseriu o comic no alinamento da Vertigo, a sua marca de comics complexos. Um ponto baixo do historial do personagem foi a sua adaptação ao cinema, que seguiu fielmente o historial azarado de adaptações de obras de Alan Moore ao grande ecrã (mas ainda não vi o Watchmen e o seu realizador tem fama de ser muito fiel à visão original dos autores, podendo ser a excepção no historial desastroso entre Moore e o cinema).

The Family Man reúne um arco de histórias que se desenvolveu ao longo de vários números do comic. Inicia-se com um surreal encontro entre Constantine e um velho amigo negociante, que se revela uma personagem de ficção que se vai reduzindo ao esquecimento. Por entre os vastos arquivos do personagem esquecido Constantine encontra provas de uma ligação entre um coleccionador de material extremo e um assassino em série. É assim que se cruza com o Family Man, um polícia reformado que se dedica a assassinar famílias e que se revela um perigoso adversário de Constantine. Tão perigoso que ao longo do arco de histórias assassina o pai de Constantine e quase o apanha. Contra este adversário humano, Constantine é quase impotente.

Não é boa ideia matar um personagem popular, muito menos ao fim de vinte ou trinta edições, de forma que Constantine vence o seu oponente. É uma vitória amarga, que envolve a morte do assassino em série e um doloroso reencontro familiar.

O que cativa em John Constantine é a sua humanidade, as suas imperfeições e o carácter ambivalente que oscila entre o anti-herói e a capacidade de se sacrificar. Para além disso, é um dos raros personagens da cultura pop que ainda é fumador inveterado. Só por isso já vale ler as aventuras do personagem, de preferência ao sabor de (heresia das heresias) uma boa fumaça.