Nem por acaso. Talvez seja inconsciente colectivo. Agora que se fala de rankings não deixam de ser curiosas palavras que encontrei num artigo de Larry Cuban intitulado Computers Meet Classroom: Classroom Wins. O artigo não versa sobre rankings, antes analisa o impacto da introdução de computadores nos ambientes escolares e em particular porque é que raramente as promessas de revolucionar o ensino são cumpridas. O artigo analisa vários factores, entre os quais um que me tocou profundamente: a ideia de que a tecnologia falha em modificar a instituição escolar porque temos uma imagem fixa, construída, do que deve ser a escola, de como se processa a aprendizagem e da relação entre professor, aluno e conhecimento. Tecnologias que alteram essa percepção ficam relegadas ao esquecimento sob a etiqueta de "ideia interessante mas não funciona na realidade". Tecnologias que apoiam as práticas tradicionais são valorizadas. Cuban fala do projector como exemplo, e eu penso nos quadros interactivos, dos equipamentos tecnológicos o que oferece menos possibilidades pedagógicas mas o mais adoptado porque reforça as práticas habituais dos professores. Outro factor que condiciona a adopção de tecnologia é uma crença cega num optimismo de eficácia educativa que acaba por não se traduzir em resultados porque se a tecnologia encerra potencialidades é preciso imaginação e formação para as explorar. Mas a coincidência com os rankings não está aqui.
Note-se que num texto escrito no final dos anos 90 o autor observa que ...the current movement for national goals, standards, and testing. If the movement continues its momentum, especially in its concentration on national examinations with strong consequences for individual students' futures and school funding (such as the National Assessment of Educational Progress [NAEP] ), the movement may largely channel new technologies to fit existing patterns of teaching and learning because what fuels the drive toward national goals, standards, and testing is the lure of increased student productivity. Concentration on quantitative standards reinforced by high-stake test results usually diminishes risk-taking in classroom and school innovations.
Ou seja, acreditar em excesso em métodos quantitativos de avaliação a curto prazo é contra-producente se desejamos desenvolver outras dimensões dos nossos alunos que não a capacidade de memorizar conteúdos estanques. A criatividade, flexibilidade e capacidade de recorrer a diferentes tipos de conhecimento para resolver problemas não se ajustam muito a treino e memorização, as estratégias mais usuais para superar testes e exames. Enfrentando a pressão de resultados a curto prazo, que professores serão capazes de correr riscos para experimentar novas formas de ensinar? E isso dilui o investimento. Agora, todas as salas de aulas dispõem de computador e projector, o que implica que a apresentação oral apoiada no quadro de giz está a ser substituída pela apresentação oral apoiada pelo powerpoint ou pela capacidade multimédia limitada do quadro interactivo. O que não muda é a apresentação - que é útil e necessária, mas há tanto mais que pode ser feito...
(Antes que me crucifiquem, digo desde já que também sou grande fã da apresentação oral apoiada em powerpoint ou multimédia. É perfeito para apresentar aos alunos as ferramentas - tradicionais ou digitais - para exploração criativa. Apontar o caminho não chega, também é preciso ensinar a andar...)