Foi a notícia que surpreendeu esta manhã: o programa Magalhães foi suspenso pelo ministério. Ou talvez não, como veio o inefável secretário de estado da educação, Valter Lemos (vává para os amigos e doutourado com uma tese que defende a abolição de sistemas de avaliação de alunos), foi apenas temporariamente suspenso, ficando a decisão da sua continuação para um próximo governo. A diferença entre suspender e adiar para as calendas gregas é muito ténue.
A confirmar-se, e a manter-se, esta suspensão assinala o falhanço rotundo de um dos programas mais ambiciosos do Plano Tecnológico na Educação. Que o programa nunca correu bem, nem sequer próximo do previsto, foi notório. O processo de entregas foi confuso, sobrecarregou professores ao invés de funcionários da empresa e o processo de pagamentos foi, no mínimo, surpreendente. Quem é que em sã mente envia por sms uma referência para pagamento sem que se saiba qual é a entidade? Bem, a Youtsu, gestora de entrega de computadores TMN e Vodafone fez isso. Ao invés, a ZON fez o preciso oposto - com ofícios atempados às escolas avisando que um sms com identidade identificada no ofício iria ser enviado e combinações de entrega de pcs apenas a responsáveis das escolas com data marcada. Ao fim de um ano de entregas, ainda se está longe dos 500.000 prometidos.
Quanto ao objectivo principal, de utilização na sala de aula, ainda se está muito longe do pretendido. Nem todos os alunos dispõem de máquina, as escolas não estão equipadas com wlans para tirar partido de recursos de aula virtual e a formação de professores é inexistente. Quanto à máquina em si, para lá dos problemas de software há a registar problemas de hardware inaceitáveis num equipamento supostamente à prova de crianças. E já nem falo na lógica de escolha do equipamento, preferindo hardware e software proprietário sobre alternativas abertas (mas aqui a presença da Caixa Mágica suaviza este aspecto).
De qualquer forma, o princípio do programa é meritório: permitir que todos tenham acesso à ferramenta elementar da sociedade digital. Podia não estar a ir na direcção esperada, mas tornou-se um facto ver crianças a utilizar o seu computador. Se calhar mais a jogar do que a estudar, mas a jogar também se aprende...
Se se mantiver esta suspensão (e, geralmente, quando acontecem destas a coisa é para manter) temo que um passo importante de combate à infoexclusão termine como mais uma peça semi-obsoleta colocada a um canto por falta de uso. Será um desperdício, de dinheiros públicos e de capacidades humanas. E do trabalho de todos os que no terreno tentaram andar para a frente com este projecto.
De certa forma, ainda bem que isto aconteceu. Quem está inserido no mundo da educação já se habitou a viver projectos revolucionários que de um dia para o outro desaparecem do mapa. Já perdi a conta às alterações curriculares, renovações pedagógicas ou revoluções conceptuais saídas dos pedagogos de gabinete ao longo dos meus dez anos de ensino que depois de muito trabalho e muita reunião dão... em nada. O desabar do projecto magalhães mostra publicamente uma característica própria das políticas educativas portuguesas: a tendência para desvanecerem pouco tempo depois de terem alterado o que já existia, sem resultados práticos ou avaliações de eficácia.