
Venceslau de Morais (2007). O Culto do Chá. Lisboa: Frenesi
O Culto do Chá
A paixão pelo oriente é um tema recorrente nas artes e literaturas, desde o fascínio pelos produtos e culturas das terras longíquas, passando pelo orientalismo com a sua visão idealizada de um oriente sensual, que se reflecte hoje na paixão que sentimos pelos produtos culturais orientais, quer pelo seu cariz exótico e tradicional quer pela modernidade tecnológica. A ideia que fazemos de terras como a Índia, a China, o Japão e zonas envolventes envolve uma certa mística do exotismo que muitas vezes esbarra na realidade da vida das populações.
Em 1905, fascinado pela vida oriental ao ponto de trocar Portugal pelo Japão, o poeta e escritor Venceslau de Morais publica aquela que viria a ser a sua mais famosa obra, O Culto do Chá. Com a desculpa de nos iniciar nas minúcias nipónicas que envolvem o ritual de degustar uma chávena de chá, Morais mergulha-nos na visão de um Japão bucólico, ainda não tocado pela modernidade, reflectindo uma procura de perfeição nos seus rituais e respeitando longas tradições milenares espelhadas nas lendas e histórias tradicionais que entretece ao longo da narrativa.
Mais do que o acto de beber chá, Venceslau de Morais fascina-se por uma certa ideia de pureza e elegância presente na cultura japonesa, de sublimação dos sentidos por submissão a estritas regras e rituais sociais. É também esse o fascínio que hoje sentimos quando falamos no moderno Japão, terra de tradições e tecnologia avançada.
A acompanhar as palavras de Venceslau estão as ilustrações de Iochiaqui, que nos mergulham na cultura japonesa com uma intensidade que só imagens produzidas por uma outra cultura, por um outro modo de ver e representar conseguem atingir. Venceslau confessa que estas ilustrações são menores, encomendadas a ilustradores habitualmente ocupados a produzir ornamentações de pacotes de perfumaria ou rótulos de garrafa. Com mais dinheiro, confessa, teria encomendado ilustrações aos mais refinados praticantes da forma japonesa de representação gráfica. Apesar disso, os desenhos criados pelo humilde ilustrador são um lado indissociável desta pequena obra de culto da literatura portuguesa.