O modelo de negócio ikea é interessante. Atraindo consumidores com a promessa de preços baixos e alguma qualidade, faz incidir grande parte dos custos de comercialização sobre os consumidores.
Ir ao Ikea adquirir qualquer produto obriga sempre a uma deslocação, normalmente mais do que uma, porque é preciso ver, rever e voltar a ver antes de decidir. Dentro do Ikea somos levados num percurso longo e cheio de objectos, cuja quantidade disfarça a pouca diversidade presente. Maior quantidade não implica maior escolha. Encontramos poucos funcionários, algo que a empresa assume como um deixar os clientes em paz (e não como forma de poupar em salários). Praticamente tudo é feito pelos clientes - até o cortar e pesar de tecidos à medida. A inconografia explica-nos amavelmente que assim é mais rápido e permite baixar o preço.
Aperta a larica e dá alguma vontade de mordiscar qualquer coisa? Pensando no bem estar dos seus clientes, os conceptores das lojas criaram espaços de restauração self-service. Nos contentores de lixo podemos ler que é importante que os clientes depositem o próprio lixo lá dentro porque assim os funcionários podem concentrar-se em cozinhar. É a desculpa mais surreal que já vi para manter custos baixos poupando na mão de obra.
Tudo o que se quiser levar, excepto objectos de grandes dimensões, é retirado pelo cliente do armazém (redenominada área de self-service) que também tem que assegurar o transporte, a carga e a descarga. E depois de se estoirar a levar as embalagens para o veículo, conduzir devagarinho para não provocar acidentes, partir as costas a carregar caixas pelas escadas acima, ainda há que montar a peça. Felizmente a coisa vem com instruções.
Sob promessa de preços baixos, acabamos por fazer quase todo o trabalho que competeria ao vendedor. É um princípio semelhante ao das caixas mutibanco - quanto mais as usamos, menos funcionários bancários são necessários e o lucro das instituições sobe. Bem vindos à nova economia, em que o consumidor se transforma alegremente em trabalhador enquanto consome.
Barato, barato, barato. Será que nos sairá caro a médio e longo prazo?