quinta-feira, 2 de julho de 2009
Opera #1
IMDB | Opera No.1 (1994)
Uma fantasia minimalista, misturando vocalizações operáticas, um cenário despojado de adereços e uma história quase arcádica no seu desenrolar. Duas fadas de asas emplumadas e patins em linha unem dois amantes inesperados, com algumas complicações de papeis sexuais pelo meio. Leve, o tom de opera minimal remete para os excessos barrocos, sublinhado pela fantasia de um argumento tão ao gosto da erudição de outras épocas. O cenário e os quatro protagonistas, despojados de todo o elemento decorativo excepto o estritamente necessário para a sua caracterização, equilibram este filme que deixa no espectador um gostinho a encanto.
Anos antes, Peter Greenaway realizara Prospero's Books, este sim uma verdadeira transposição operática para a tela do cinema, excessiva, com uma riqueza cromática e uma busca de efeitos visuais que nos leva ao conceito de arte total. Misturando Shakespeare com cenários barrocos, música de Michael Nyman e a estética plástica do realizador, foi um filme que ambicionou claramente tornar-se um exemplo de gesamtkunstwerk. Greenaway repetirá a fórmula mais tarde com O Bebé de Mâcon, homenagem extravagante ao período barroco, mas sem a elegância do reviver shakespeariano (isto na minha humilde e irrelevante opinião).
Opera #1 é o reverso dos excessos operáticos em registo de ópera, filmado por Hal Hartley, decano dos realizadores independentes norte-americanos e detentor de uma linguagem estética austera, sóbria nas cores e comedida na direcção de actores.