terça-feira, 2 de junho de 2009

Miracleman



Wikipedia | Miracleman

Originalmente um clone inglês de um personagem clássico da Fawcett, Miracleman ganhou notoriedade graças a uma série de dezasseis volumes escrita por Alan Moore e originalmente publicada na revista britânica Warrior.

Pegando no personagem simplista que copiava discretamente o clássico Capitão Marvel dos anos 40 e 50, Moore remisturou brilhantemente os conceitos do comic de heróis com uma certa visão nietzschiana. O autor repesca o personagem anós após a sua última aparição, amnésico, casado e com uma vida banal. Recuperando a sua memória, Mircleman, o homem milagroso, embarca numa viagem de descoberta em que nada é adquirido. Nos primeiros números, a história parece desenrolar-se da forma habitual, com um personagem a descobrir a sua mitologia de poderes concedidos por seres cósmicos. Parece banal, típico de milhentas personagens do género, e Alan Moore depressa nos tira o tapete com um arco mais negro, onde os mitos super-heróicos são revelados como constructos psicológicos gerados por cientistas sem escrúpulos que adaptaram tecnologias alienígenas na criação de mutações de seres humanos, na busca de um homem perfeito. Os ingredientes são interessantes - alienígenas, conspirações governamentais, super-homens nietzschianos com laivos de übermensch nazi, mas Moore não se fica por aqui.

Ressuscita um dos companheiros de Miracleman como o seu oposto - um mal absoluto. Envia Miracleman ao espaço para conhecer duas avançadas civilizações que se debatem com o que fazer com um planeta que contém mais que humanos. Como apoteose, gera uma terrível batalha entre o bem e o mal - entre o super-homem milagroso e o super-homem diabólico que arrasa Londres e se desenrola com um sadismo pouco habitual nos comics (que, à época, gerou controvérsia). Ilustrado por John Totleben (que acompanhará Moore na recriação de Swamp Thing), este número vive de cenas tétricas de violência infernal de fazer inveja às visões do inferno de Hyeronimus Bosch. No clímaxe da história, momento em que Moore abandona a série, Miracleman conduz o planeta para uma utopia social, tornando-se o regente de uma ditadura benevolente que engloba todo o globo, erguendo um novo olimpo onde vivem deuses reais.

Esta evolução, bem como a mestria habitual da arte dos comics saída de Alan Moore, tornaram esta série um marco de culto na história da banda desenhada. Miracleman ainda durou mais uns números, agora sob tutela de Neil Gaiman que optou por histórias pessoais ao invés de grandes arcos mitológicos. São estilos de abordagem que caracterizam os autores: mais tarde, Moore reiventará o clássico Swamp Thing de acordo com linhas ecológicas e mitológicas, e Neil Gaiman entretecerá uma mitologia a partir de retratos de vidas comuns tocadas por magia ao reiventar The Sandman.

Miracleman é um comic difícil de encontrar, mergulhado em litígios legais entre editores e autores sobre quem detém os direitos de autor, o que impossibilita a sua republicação.