Ambiente saturado pelos media, o pulsar electromagnético que nos rodeia no imenso útero digital. Após a morte televisionada de um papa, acompanhada em tempo real por todo o planeta, temos a cobertura hipermedia da morte de uma estrela pop. Momento ballardiano nos media, completo com multidões angustiadas a cercar o edifício onde reside a carcaça da estrela por entre os espaços insossos dos subúrbios. Ballard escreveu um conto, anos atrás, onde os detalhes da saúde de ronald reagan eram seguidos em tempo real pelos jornalistas. Notícias de última hora sobre a taxa de pressão sanguinea e análises detalhadas com debate sobre o nível de açucar no sangue. Como se viu ontem, a vida aperfeiçoa-se na imitação da arte.
Décadas atrás, John Dos Passos descreveu num dos livros da trilogia USA as reacções populares à morte de Rudolf Valentino, galã dos primórdios do cinema, falando das multidões chorosas e dos jornais que sucediam edições em catadupa para um país ávido de saber sempre um pouco mais. Morte mediatizada no auge da era de gutenberg. Novos media repetem os velhos padrões. O interesse, o leitmotiv humano mantém-se inalterado.
Resta agora o debicar da carcaça, os inúmeros tributos vazios de conteúdo e as reedições especiais dos discos, cds, dvds e mp3 com drm restritiva. Morte como fonte de rendimento garantido.