Prepara-se a entrega de quadros interactivos na escola no âmbito do PTE. Há uns dias chegou-nos um fax a marcar o dia oito de maio para instalação dos quadros. O problema é que é dia de aulas, obrigando a alterar salas de aula, com algumas turmas a ficar impedidas de ter aula na sala normal, e ruído anómalo durante o dia. Uma dor de cabeça logística a resolver. Com a aproximação da data o meu sexto sentido entrou em acção. Seria boa ideia, pensei, confirmar e ver se estava tudo a correr como previsto. Não teria grande piada ter tudo pronto para a intervenção, com disrupção das actividades lectivas, e depois os responsáveis pela montagem dos quadros não aparecerem. Com o fax perdido entre as montanhas de papel, enviei um email à empresa a que foi adjudicada a empreitada dos quadros interactivos. Esta manhã, sem resposta ao email, aproveitei uma pausa na actividade para ligar para a delegação de Lisboa da dita empresa. Fui bem recebido, e informado que já tinham conhecimento do meu email, tendo-o encaminhado para a logística no Porto. Este iriam entrar brevemente em contacto comigo, asseguraram-me.
Algumas horas depois desta resposta mas ainda sem qualquer contacto, decidi tomar a coisa nas minhas mãos. Só precisava de confirmar a data e horas, bem como saber que dimensões teriam os quadros, uma vez que a sua colocação obrigará a retirar quadros de ardósia já existentes. Liguei para a delegação do Porto da empresa. Aí começaram as surpresas: fui simpaticamente informado que esta empresa, apesar de ser responsável no âmbito dos quadros interactivos, não efectuava a montagem, que tinha sido sub-contratada a outra empresa.
Novo telefonema, para esta nova empresa. Será que vão montar os quadros na próxima sexta? De facto, havia qualquer coisa agendada. Mas quem estava do lado de lá da linha estava habituado ao rigor das empreitadas públicas portuguesas. Perguntou-me se já tinham entregue os quadros. Entregue? Mas então quem monta não é quem entrega? Na verdade, não. E como os prazos não estavam a ser cumpridos, o conselho que me deu foi verificar com a empresa que entregará os quadros a data de entrega e depois marcar a data para instalação.
Novo telefonema, para a empresa que irá entregar os quadros interactivos. Confirma-se realmente a entrega para dia 8... até ao final do dia. A montagem tem data agendada, mas como gato escaldado de água fria tem medo, vou optar por confirmar pessoalmente com a empresa de montagem. Após finalizar este telefonema ligam-me da empresa de entrega dos quadros, para me esclarecer as dúvidas apresentadas no email... fiquei com a sensação que a comunicação entre secretárias lado a lado é difícil.
Resultado: preparámos a escola para uma forte disrupção no dia 8. E se eu não tivesse ligado à procura de confirmações, teria sido tudo em vão.
O que me irrita nesta situação é que perdi grande parte do dia a desembrulhar uma embrulhada que não é da minha responsabilidade. Se agisse apenas com base na informação de que dispunha teria arranjado um lindo sarilho. No papel, a entrega dos quadros vem com montagem incluída e a empresa que vende os quadros (mas afinal não os monta nem distribui) até publicou um belo vídeo a documentar como corre bem o processo numa escola da área da DREN. No papel, este é um processo rigoroso de prazos bem estabelecidos e formalidades a cumprir à risca. Na prática a coisa não é bem assim. E quanto ao prometido rácio de um quadro por cada três salas, ainda estou para perceber que algoritmo é que atribuiu quatro quadros a vinte e cinco salas. Será meio quadro por cada três salas, terei lido mal?
Como sinto a responsabilidade de zelar pelo bom cumprimento de tudo o que assino (é, afinal, o meu nome em questão) sou quem na prática se trama. As empresas lucram com estes contratos a prazo curto do ministério (a ordem é para ter o PTE pronto o mais rápido possível). Em época pré-eleitoral, o partido no governo alardeia o PTE como uma grande iniciativa (que é, realmente, uma iniciativa de mérito) com óbvios aproveitamentos eleitoralistas que até já incluem videos de actividades nas escolas aproveitados para tempo de antena partidário. Quem tem trabalho, mas não lucra, é quem tem a ingrata tarefa de coordenar esta floresta de sub-contratações, que tenta cumprir as directivas do ministério, que perde horas para lá do seu horário a acompanhar a montagem de equipamentos ou a desembrulhar logísticas e até a suprir as falhas de quem foi pago para prestar um serviço mas não o prestou na totalidade (no meu caso, ter de assegurar formação aos professores sobre o uso de projectores, uma vez que os responsáveis pela formação não compareceram na data marcada - até porque eram electricistas e não técnicos de projectores). Claro que a imagem que passa é a de profissionalismo das empresas e empenho do ministério. Se alguma coisa correr mal a culpa será, necessariamente, dos professores.