Confesso que passei o dia num leve estado de ansiedade. Aguardava a chegada dos novos quadros interactivos. Brinquedo digital novo é sempre aguardado com gosto por tecnofetishistas da minha laia. A entrega estava prevista para a tarde, o que me permitiu passar o dia a desatar algumas outras embrulhadas burocráticas, a marcar uma data agradável para a montagem dos quadros (uma vez que ao contrário do afirmado entrega e montagem são momentos distintos) e, bem, a dar aulas (porque afinal sou professor).
Às quatro da tarde, findo o dia lectivo, comecei a preocupar-me. Ainda nada tinha chegado. Liguei para a empresa das entregas, mas não me atenderam. Ligo depois, pensei, e fui tratar de outras coisas. Por volta das seis liguei mesmo. Atenderam-me, surpreendidos, afirmando que me tinham comunicado via email que a data de entrega havia sido alterada. Bem, tal email nunca me chegou à caixa de correio e de qualquer forma não tenho obrigação de estar constantemente a ler mails - até porque o assunto implica alterações à rotina das aulas e estas não podem ser feitas com base em hipotéticos emails. Fiquei contente. Mais horas para lá do meu horário que perdi à espera de quem não aparece, de uma entidade responsável que nem se dá ao trabalho de telefonar para informar.
Tudo isto começou com um fax em que fomos informados que nesta sexta-feira iriam ser montados quatro quadros interactivos, de um total de oito esperados. Para o fazer, era necessário libertar as salas onde estes iam ser montados, tarefa difícil em plenas actividades lectivas. Resolveu-se a questão logística, implicando alterações ao horário dos alunos, mas com o aproximar da data optei por me certificar que tudo iria de acordo com o planeado. Ainda bem que o fiz. De facto, nada corre dentro dos prazo e conforme o estipulado pelo ministério. A entrega e montagem, nominalmente ao mesmo tempo, são na realidade desfasadas. Os prazos são alterados sem aviso, sem atender ao trabalho que dá criar condições para que o trabalho de terceiros seja feito com disrupções mínimas da rotina escolar - parece coisa menor mas imaginem o que é ter professores e alunos sem salas para trabalhar... e depois os responsáveis por essa disrupção não aparecerem. Sem qualquer aviso. Foi por pouco.
Mesmo assim... para montar os quadros são necessárias paredes livres, o que implica desmontar os quadros de ardósia, coisa que está a ser feita ao longo do fim de semana. Três das salas mantém parte do quadro tradicional, mas as dimensões da parede da quarta sala obrigaram ao retirar de todo o quadro. O que significa que segunda-feira alguém irá ter uma surpresa...
Neste processo do PTE, a minha responsabilidade prende-se com a recepção dos equipamentos e acompanhamento da montagem. Não sou eu que tenho de desembrulhar as datas de entrega, que se resolveriam com um simples telefonema atempado por parte das empresas responsáveis pelas entregas. Mas se eu não o fizer, a coisa descamba. No entanto, a imagem que passa para o exterior é que o PTE e as suas iniciativas mais conhecidas, em particular o projecto Magalhães, correm oleados com enorme empenho ministerial e competência por parte das empresas envolvidas. Na prática... as entregas do magalhães são a conta-gotas e as avarias sucedem-se (com o apoio técnico a descartar o software para as escolas e a recusar-se a intervir no hardware). No eEscolas, duas das três operadoras retiraram-se discretamente do programa (apesar de alardearem o oposto nos seus sites). As escolas foram equipadas com projectores de topo de gama (média, mas mesmo assim topo), cablados com calha rigorosissima que termina em... cabos vga e de alimentação pendurados em ganchos na parede (porque optámos por pregar ganchos nas paredes, porque no final da instalação ficaram pendurados nos rebordos dos quadros, nas cadeiras ou sobre as tomadas). Nos quadros é esta história das montagens, por enquanto. Com os computadores e a rede LAN/WLAN o que será que me espera? Mais horas perdidas, certamente...