sábado, 2 de maio de 2009

Legiões de heróis

Parece ser um novo fenómeno/lenda urbana: homens e mulheres que se vestem com fatos garridos e saem às ruas mascarados, apostados em combater o crime. São normalissimos, excepto pelo pormenor de gostarem de se sentir super-heróis na vida real. Escolhem cognomes apropriados à dupla identidade, organizam-se em grupos e têm presença online. É um curioso caso bleeding edge de disfunção provocada por exposição excessiva à cultura pop.

Será que a moda pega por cá? Será que a Ericeira precisa de um cavaleiro do pôr-do-sol ou um vingador da beira-mar?

Curiosamente, uma das minhas memórias de criança é a de um homem de meia idade que gostava de se passear pela Avenida de Roma (e que outras redondezas não sei, que isto de infâncias urbanas têm sempre rédea curta) vestido de uma forma única: calções e camisola justos, cinto com bolsas e uma ominosa bengala. Nos finais dos anos 80, quando eu estava a descobrir os comics com as reedições brasileiras da Abril dos super-heróis da Marvel, esta visão pelas avenidas de Lisboa era difícil de não relacionar com o mundo dos vigilantes da ficção em quadricromia. O que corria na avenida era que este homem era de boas famílias mas com um fusível estoirado na caixa craniana. Recordo-me vivamente das poucas vezes que vi o herói da avenida quando vinha da catequese na igreja de s. joão de deus para a casa da minha madrinha, que vivia mesmo ao lado das piscinas do areeiro. Mas este até não era o mais estranho dos passeantes regulares da Avenida de Roma. Essa honra vai para a mulher que durante anos todos os dias subiu e desceu a avenida vestida de noiva. Mais uma vez o que corria era que a infeliz tinha enlouquecido depois de ser abandonada no altar. Se sim ou senão, é algo que nunca descortinarei.